Surpresa no céu: quando o Zepelim, maior dirigível do mundo passou por Jaraguá do Sul
Em 1936, Jaraguá do Sul parou para ver o Hindenburg cruzar o céu. Um episódio histórico e surpreendente.
Zepelim Hindenburg cruza o céu de Jaraguá do Sul na década de 1930 - Foto: Arquivo histórico de Jaraguá do Sul
Em uma manhã aparentemente comum de 1936, os moradores de Jaraguá do Sul foram surpreendidos por uma cena que mais parecia saída de um filme de ficção científica. Um zepelim colossal surgiu no horizonte, cortando silenciosamente os céus da cidade. Era o Hindenburg, maior aeronave já construída, cruzando o ar sobre ruas de paralelepípedo e casas coloniais. O espanto foi imediato. A imagem daquele gigante prateado pairando sobre a cidade ficaria gravada na memória coletiva dos jaraguaenses.
Um gigante prateado sobre a cidade

Na terça-feira, 1º de dezembro de 1936, o dirigível alemão LZ 129 Hindenburg fez um sobrevoo inesperado sobre Jaraguá do Sul. Vindo do leste, ele apareceu logo nas primeiras horas da manhã, cobrindo o céu com seus 245 metros de comprimento e 42 metros de diâmetro. Seu vulto impunha respeito e fascínio. Sobrevoou a região central da cidade, passando por marcos como a Igreja Luterana Apóstolo Pedro e as construções em estilo enxaimel que caracterizam a arquitetura de influência alemã.

A aparição pegou todos de surpresa. Muitos moradores acordaram com a movimentação e saíram de casa para observar. O jornal “O Correio do Povo”, à época, registrou o evento em sua coluna em alemão, com uma descrição quase poética do momento: “Terça de manhã – o que revira o ar? Lá, um rugido, um grito de entusiasmo: ‘O Hindenburg, o Hindenburg’. E de lá vimos nós, viajando de leste a oeste…”. Era como se o futuro tivesse dado uma espiada em uma cidade ainda moldada pela tradição.
Dirigíveis no Brasil e a rota alemã

A presença do Hindenburg não foi um acaso. Desde 1930, o Brasil mantinha relações estreitas com a empresa alemã Luftschiffbau-Zeppelin GmbH, que operava dirigíveis entre a Europa e a América do Sul. O país chegou a construir, no bairro de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, o Aeroporto Bartolomeu de Gusmão, considerado o maior do mundo para esse tipo de operação. Apenas Brasil e Alemanha possuíam estrutura adequada para pousos e decolagens de dirigíveis daquela magnitude.
O Hindenburg realizou sete viagens ao Brasil em 1936. A rota contemplava, além das grandes capitais, uma espécie de homenagem simbólica a regiões com forte presença da colônia alemã. Joinville, Blumenau, Indaial e Jaraguá do Sul foram algumas das cidades sobrevoadas. Para muitos, o gesto representava um elo cultural entre as comunidades alemãs do sul do Brasil e sua “pátria-mãe”. Mesmo sem pousar, a simples presença daquela aeronave tinha um impacto simbólico considerável.
O fim trágico da maior aeronave da história

Menos de um ano depois da passagem por Jaraguá do Sul, o Hindenburg protagonizou um dos acidentes mais emblemáticos da aviação mundial. Em 6 de maio de 1937, ao tentar atracar na base de Lakehurst, em Nova Jersey (EUA), o dirigível foi consumido por um incêndio repentino. Em questão de segundos, o que era um símbolo de inovação virou uma tragédia. Das 97 pessoas a bordo, 36 perderam a vida.
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O desastre levantou uma série de questionamentos sobre a segurança do uso de hidrogênio como gás de sustentação, altamente inflamável. Apesar de haver alternativas como o hélio, mais seguras, o custo era um entrave à época. O acidente do Hindenburg não apenas marcou o fim da era dos grandes dirigíveis como também coincidiu com o esfriamento das relações entre Brasil e Alemanha, que se agravariam com a aproximação da Segunda Guerra Mundial. Em 1942, o Aeroporto Bartolomeu de Gusmão foi desativado e transformado em base aérea militar.

Como isso impacta sua vida?
Relembrar o dia em que o Hindenburg sobrevoou Jaraguá do Sul é reconectar a cidade com um capítulo relevante da história mundial. O episódio mostra como, mesmo distante dos grandes centros, Jaraguá já fazia parte de um cenário globalizado, atravessado por tecnologia, diplomacia e simbolismos culturais. Conhecer e valorizar esses momentos é manter viva a memória de um passado que ajudou a moldar a identidade da região.
Max Pires
Já criei blog, portal, startup… e agora voltei pro que mais gosto: contar histórias que fazem sentido pra quem vive aqui. Entre um café e um latido dos meus cachorros, tô sempre de olho no que importa pra nossa cidade.