Você sabia que um zepelim, dirigível alemão, voou sobre SC antes da Segunda Guerra?
Em 1936, o zepelim Hindenburg cruzou os céus de SC. Hoje faz 89 anos desse voo histórico. Relembre esse dia marcante.
Em 1º de dezembro de 1936, um espetáculo aéreo inusitado tomou conta dos céus de Santa Catarina. Era o dirigível Hindenburg, a maior aeronave já construída até então, cruzando lentamente diversas cidades do estado. O voo, silencioso e imponente, deixou moradores de lugares como Jaraguá do Sul, Blumenau, Joinville, Brusque, Indaial e Corupá boquiabertos. Hoje, 89 anos depois, registros e relatos resgatam um episódio que surpreendeu comunidades inteiras e virou manchete nos jornais da época. A presença de uma tecnologia tão avançada causou espanto, curiosidade e, em alguns casos, até medo.

O que fazia um zepelim alemão nos céus catarinenses?
A década de 1930 marcou o auge dos dirigíveis como meio de transporte intercontinental. O governo brasileiro, ainda sob Getúlio Vargas, firmou parceria com a empresa alemã Luftschiffbau-Zeppelin GmbH, permitindo a construção do Aeroporto Bartolomeu de Gusmão, no Rio de Janeiro, considerado na época o maior aeroporto do mundo dedicado a dirigíveis. Essa cooperação refletia o interesse estratégico e comercial entre Brasil e Alemanha, numa fase anterior à Segunda Guerra Mundial.

Foi nesse contexto que o Graf Zeppelin realizou, em 1930, sua primeira travessia transatlântica até o Brasil. Seis anos depois, o Hindenburg, ainda mais colossal e sofisticado, repetiu a rota, com destaque para sua última viagem do ano. Nessa ocasião, o itinerário foi alterado propositalmente para contemplar cidades brasileiras com forte influência germânica, como parte de uma espécie de “exibição diplomática” da tecnologia alemã. Santa Catarina, com suas colônias fundadas por imigrantes alemães no século XIX, teve papel central nesse trajeto.
Relatos e registros do sobrevoo em SC

A passagem do Hindenburg deixou marcas profundas na memória dos moradores. Em Brusque, a então criança Ursula Rombach, filha de um arquiteto alemão, testemunhou a cena aos três anos de idade. Em Blumenau, a expectativa foi tanta que moradores se reuniram em frente às casas para acompanhar o fenômeno. Em Jaraguá do Sul, dois registros fotográficos eternizaram o momento, e o jornal “O Correio do Povo” publicou uma nota entusiasmada na coluna de notícias locais, escrita em alemão. O texto descrevia a aeronave como “um rugido no céu” e celebrava sua passagem como símbolo de conexão com a antiga pátria.
A reação da população oscilou entre o encantamento e o temor. Para muitos, ver uma máquina gigantesca cortando o céu sem ruído era algo impensável. Alguns se emocionaram, outros se apavoraram. Houve relatos de pessoas que interpretaram o sobrevoo como sinal de fim do mundo, tamanho o ineditismo do evento.

O fim do Hindenburg e o encerramento de uma era
Pouco tempo depois, em 6 de maio de 1937, o Hindenburg se transformaria em tragédia. Durante uma tentativa de atracação na base de Lakehurst, nos Estados Unidos, o dirigível pegou fogo e foi completamente destruído. Das 97 pessoas a bordo, 36 morreram. O acidente, amplamente registrado por imagens e câmeras da época, chocou o mundo e levantou questionamentos sobre a segurança dos dirigíveis, que utilizavam hidrogênio como gás de sustentação.
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O desastre selou o destino dessa tecnologia. Com o avanço das tensões geopolíticas que culminariam na Segunda Guerra Mundial, as relações entre Brasil e Alemanha se tornaram insustentáveis. O acordo de operação dos dirigíveis foi cancelado, e o aeroporto de Santa Cruz passou a ser utilizado pela Aeronáutica. Assim, um ciclo se encerrou — e Santa Catarina, ainda que brevemente, fez parte desse capítulo grandioso e dramático da aviação mundial.

Como isso impacta sua vida?
Resgatar a história do Hindenburg em Santa Catarina é mais do que um exercício de memória. É compreender que nossa região esteve conectada aos grandes acontecimentos globais, mesmo nos anos 1930. Cidades como Jaraguá do Sul e Blumenau, hoje polos econômicos e culturais, já foram palco de um espetáculo aéreo que deixou marcas profundas em várias gerações. Ao revisitar esse episódio, reforçamos o valor das histórias locais e reconhecemos que, mesmo longe dos centros do poder, Santa Catarina sempre esteve no radar do mundo.
Max Pires
Já criei blog, portal, startup… e agora voltei pro que mais gosto: contar histórias que fazem sentido pra quem vive aqui. Entre um café e um latido dos meus cachorros, tô sempre de olho no que importa pra nossa cidade.