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145 anos da nossa brava gente: Vencendo desafios como primeira médica de Jaraguá do Sul

A primeira médica ginecologista-obstetra de Jaraguá do Sul, lembra que no início não foi fácil e precisou vencer o preconceito na terra dos alemães

25/07/2021

E já diz o ditado “tendo saúde, o resto a gente corre atrás”. E por aqui pode-se dizer que os munícipes estão bem servidos quando pensamos em especialidades, estrutura hospitalar e tecnologia.

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Claro que nem sempre foi assim. A tecnologia veio com o tempo, mas a vontade de atender os pacientes está enraizada em Jaraguá desde a criação dos hospitais que nasceram basicamente juntos.

Em 1925, o sonho de construir o hospital São José começou a ganhar forma. Naquele ano, foi criada a Sociedade Hospital de Jaraguá, e a sede do hospital teve a pedra fundamental colocada em novembro de 1926. Católicos e Luteranos se uniram em prol desse objetivo. Outras associações e grupos de pessoas auxiliaram, como os motoristas na década de 1920, que transportavam pessoas doentes em busca de assistência médica em cidades vizinhas. Quermesses, rifas, festas, jogos, foram realizadas em prol do hospital.

Dez anos depois, em 22 de novembro de 1936, já de posse da Paróquia Católica, foi entregue à comunidade o hospital, sob a administração do Padre Alberto Jakobs que instituiu um conselho administrativo, com estatuto e regulamento.

A nova e atual sede da unidade, localizada no Centro, foi apresentada para aprovação nos órgãos públicos em 1953, sendo inaugurada em abril de 1959. A antiga sede, no morro, foi repassada para a Comunidade Evangélica Luterana.

Construção essa que foi retomada sob a coordenação de Walter Weller, então o presidente da Comunidade Evangélica, além de todo o engajamento da população jaraguaense e de entidades alemãs governamentais e religiosas, que ajudaram para que, a partir fevereiro de 1966, o hospital pudesse oferecer o que há de melhor a seus pacientes, construindo sua trajetória com base na seriedade, competência, respeito às pessoas e aos valores.

Voltando um pouco na história, entre 1940 e 1950, a atuação de médicos como Waldemiro Mazurechen, Godofredo Lutz Luce, Benno Knudsen, Fernando Springmann, Erich Kaufmann e Alexandre Otsa foi essencial para a sociedade e para o hospital São José.

E se tem uma pessoa que se lembra principalmente de Kaufmann e Otsa, é a Dra. Ieda Mara Schroeder Galastri, de 72 anos. A primeira médica ginecologista-obstetra de Jaraguá do Sul, lembra que no início não foi fácil e precisou vencer o preconceito na terra dos alemães.

“Aos poucos fui me impondo e mostrando que mulher podia ser médica”, relata.

Natural de Campo Alegre, a Dra. Ieda saiu de casa muito jovem para cursar medicina. A filha mais velha da casa, se formou na faculdade em 1973 e um ano depois começou a trabalhar em Jaraguá, sendo pioneira na área da saúde no município.

De acordo com ela, naquela época se fazia de tudo e o médico ia até a casa do paciente para fazer exames e na maleta, iam pinças, pinar – que era o aparelho usado para ouvir o coração do bebê antes do ultrassom – agulhas, tesouras, gases, estetoscópio e medicação. A maletinha de couro ia socada de coisas, onde muitas vezes tinha-se que tentar adivinhar antes o que o paciente poderia ter.

“Lembro-me de um plantão que fiquei sozinha e chegou um homem com cólica renal. Ele pediu por um médico e disse que eu era médica. Ele estranhou e disse ‘mulher lava roupa, cozinha, cuida da casa, nada de ser médico’. Daí eu pedi se ele não queria arriscar, vai que dá certo. ‘Se não acertar eu vou brigar, mas se acertar eu dou ovo de galinha ” , lembra a Dra. Ieda que ri ao lembrar que ganhou a galinha que voava pelo consultório inteiro.

Na época, era comum os pagamentos serem feitos com comida. “Era raro receber em dinheiro”, pontua ela.

Ela lembra ainda que os médicos eram clínicos-geral com especialidades e ela sempre se dedicou nos momentos livres à área de ginecologia.

“Nós éramos médicos da família. Eu não via a doença do paciente, mas sim, uma pessoa com problema procurando ajuda e às vezes o problema não era a doença em si. O corpo responde a ansiedade.”

De acordo com ela, teve uma paciente que a procurou com corrimento e durante a consulta, a Dra. Ieda percebeu que o problema dela na verdade era a ansiedade.

A primeira médica de Jaraguá do Sul lembra que os dois hospitais tinham uma disputa sadia. Eles brigavam para ver quem tinha o melhor café da manhã para os médicos. Segundo ela, não tem como dizer qual dos dois era melhor.

A médica, ao contrário de uns e outros, vê a evolução tecnológica como uma aliada muito positiva no campo da saúde.

“A medicina evoluiu muito. Vejo essa tecnologia como algo positivo. O que poderia melhorar e acho que vai, é o contato humano. Isso se perdeu um pouco”, diz ela ao afirmar que faria medicina novamente.

Entrar no consultório atual da Dra. Ieda, é voltar ao passado. A sala pequena com uma mesa no centro de tampão de pedra clara, vidros na parede direita, uma estante com objetos da obstetrícia e objetos antigos, além de presentes que ganhou dos pacientes e ar puro devido a sacada com vegetação é ter a certeza de que se está falando com uma médica que não perdeu o brilho no olhar após quase 50 anos de profissão. Hoje, ela atende de duas a três pacientes por semana, mas a agenda é dedicada às primeiras clientes, não atendendo novos pacientes.

Assim como a Dra. Ieda, quem também se dedicou à medicina foi Dr. Fernando Arthur Springmann (in memoriam). Ele chegou no município em 1952, aos 27 anos, trazendo na bagagem o diploma de médico e o inseparável violino.

Dr. Fernando atuou como médico da Polícia Militar em Florianópolis e foi um dos profissionais que ajudou na trágica explosão da fábrica de pólvora (onde hoje é o bairro Czerniewicz), em novembro de 1953. Ele faleceu em janeiro de 2019, aos 93 anos.

No próximo capítulo, você conhecerá como foi a criação do 14º Batalhão.

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