BisBus: o ônibus-trem que encantou Jaraguá do Sul, mas não saiu do papel
BisBus seria ônibus e bonde, podendo rodar nas ruas e nos trilhos Foto : Imagem ilustrativa/IA JDV
Nos anos 90, durante o mandato do prefeito Durval Vasel, Jaraguá do Sul começou a flertar com uma proposta inovadora de transporte: um ônibus que andaria sobre trilhos. O projeto, chamado de Bisbus, prometia integrar de forma rápida e econômica cidades como Guaramirim, Corupá, Joinville e São Francisco do Sul.
O sistema utilizava ônibus com mecanismos hidráulicos, capazes de circular tanto nas ruas quanto nas linhas ferroviárias. Bastava uma rápida troca de rodados para que o veículo se transformasse em trem ou voltasse a ser ônibus.
O plano começa a tomar forma
Em março de 1995, a ideia ganhou força após um estudo de viabilidade feito pela empresa Willrich, de Curitiba, que indicou resultados positivos. Essa mesma empresa havia feito estudo semelhante de BisBus ligando as cidades de Porto União (SC) e União da Vitória (PR). Naquele momento, a prefeitura anunciava que em breve seriam definidos prazos para tirar o projeto do papel. A ideia possivelmente já tinha sido apresentada pela empresa para a gestão anterior, pois há registro de apresentação anterior do BisBus em Jaraguá do Sul.
O trajeto previsto incluía saídas da Fundação Educacional Regional Jaraguaense (Ferj), com destino final em São Francisco do Sul, passando por Guaramirim e Joinville. Além de turistas, o público-alvo era formado por estudantes universitários e trabalhadores das indústrias instaladas ao longo da ferrovia.
Visitas, estudos e promessas
Técnicos da Willrich, responsável pela tecnologia, vieram à cidade e realizaram viagens de reconhecimento da linha junto com representantes da prefeitura, como o então secretário de Planejamento, Otaviano Pamplona, e a arquiteta Maria Christina Quintaes.
Conteúdos em alta
Em julho de 1995, alguns testes do Bisbus chamaram atenção e atraíram moradores curiosos. A expectativa era alta. Quem passava pela linha férrea, que cruza grande parte da zona urbana, podia ver uma placa com a informação “BisBus no trecho”. Parecia mesmo a ideia iria vingar.
Pamplona explicava que o modelo reduziria custos de transporte, diminuiria o trânsito rodoviário e ofereceria mais conforto. Além disso, empresas já haviam demonstrado interesse em operar o serviço mediante licitação.
A espera pela autorização
Apesar do otimismo, o projeto dependia de uma peça-chave: a autorização da Rede Ferroviária Federal (empresa estatal da época) para utilizar os trilhos existentes.
Em outubro de 1995, a prefeitura afirmou que toda a documentação e financiamento já estavam prontos, e que aguardavam apenas a liberação oficial para iniciar as obras das estações entre Corupá e Guaramirim.
O plano era simples: a iniciativa privada ficaria com a operação e o poder público apenas construiria as estruturas necessárias, como plataformas para embarque e troca de rodados.
O projeto adormeceu nos trilhos
Mesmo com todos os indícios de que o Bisbus sairia do papel ainda naquele ano, o projeto desapareceu das manchetes depois disso. Não há registro de autorização final da Rede Ferroviária Federal (que foi adquirida por outra), nem de início de obras.
A ideia foi engolida pela burocracia e pelas mudanças que vinham com a privatização da malha ferroviária brasileira, deixando Jaraguá do Sul sem conhecer aquele transporte inovador que, por um breve momento, parecia tão próximo de virar realidade.
Como isso impacta a sua vida?
O BisBus foi uma daquelas ideias que, nos anos 90, encantaram a população de Jaraguá do Sul e região. Estava inserido em um contexto de busca por soluções modernas para mobilidade e fazia parte de um período em que outras transformações urbanas também eram discutidas.
Mesmo não tendo saído do papel, o projeto ficou marcado como uma curiosidade da época, lembrado por quem acompanhou aquela fase de expectativas por inovações no transporte regional.
Marcio Martins
Profissional da comunicação desde 1992, com experiência nos principais meios de Santa Catarina e no poder público. Observador, contador e protagonista de histórias, conheço Jaraguá do Sul como a palma da mão
