A linha tênue entre ser uma profissional ‘fora da curva’ e a pressão que adoece
Pessoas pretas sentem a pressão de serem duas, três, quatro vezes melhor e ainda assim nunca ser o suficiente
12/01/2023
Ser uma profissional fora da curva é ir além do esperado! É trazer ideias e propor projetos focados nas necessidades que fogem do óbvio. Muitas pessoas contam com um olhar treinado para isso, em especial as mulheres.
Mas e quando o empenho em ir além ultrapassa a linha tênue da proatividade para uma carga mental e pressão de ser duas, três, quatro vezes melhor para se fazer necessária e provar o valor e capacidade? Como encontrar esse equilíbrio?
Essa é a discussão proposta nesta quinzena por esta colunista que vos escreve! Para isso conversamos com a professora Gizelly Santos, que em dois anos de profissão já conquistou o prêmio Profissional Transformador em Itajaí, no Litoral Norte de Santa Catarina.
Além da língua portuguesa, da qual dá aulas, a professora propôs um projeto de Libras entre os alunos, promovendo não apenas a inclusão, mas uma melhor comunicação entre os estudantes.
“O projeto ‘Comunica Libras’ foi aplicado sem grandes pretensões, não imaginei que o projeto iria para além da sala de aula. O meu ensino fundamental foi todo dentro do ensino público, por isso, acredito que pelo fato de eu vir de um contexto social muito parecido com o de muitas crianças que ali estão, pensando nisso, tudo que eu faço é para motivar e tornar a escola um lugar mais atraente”, explica Gizelly.
O foco da educadora vai além de ensinar uma língua ou as regras de português, saindo do currículo escolar para a vida das crianças. “Para que eles não desistam e amanhã tenhamos uma sociedade mais comprometida. Não consigo separar a Gizelly profissional da Gizelly cidadã, elas se complementam, e ambas acreditam na educação pública de qualidade e num mundo mais inclusivo”, completa.
Uma linha tênue
Existe uma “máxima” de que pessoas pretas, especialmente as mulheres, sempre precisam fazer duas vezes mais que o normal para provarem sua capacidade e merecimento. Essa pressão – além de injusta – adoece muitas pessoas que nunca se sentem boas e suficientes.
Qual a linha tênue entre querer fazer mais, ser melhor e propor projetos que te façam crescer profissionalmente, no caso da Gizelly ainda acrescentando na educação de inúmeras crianças, e uma pressão em ser cada dia mais e ainda assim nunca ser suficiente?
“Importante você citar isso, sim, essa é a realidade de toda pessoa preta. Precisamos a todo instante estar provando nossa eficiência e capacidade. Faço parte do movimento negro da nossa região, atuo junto ao Coletivo Frente Negra, o que é um grande diferencial, ali temos formações contínuas, vivências e trocas que nos preparam e fortalecem para enfrentar o racismo”, ressalta Gizelly.
Estar próximo de pessoas que sentem, nesse caso literalmente, na pele a sua realidade pode ajudar nesta busca por equilíbrio. Focar no crescimento pessoal e profissional é imprescindível, mas é importante ter em mente que esta é uma ferramenta sob as tuas mãos para te fazer crescer e não uma arma do machismo ou racismo para te adoecer.
Seguimos juntas, lindo 2023 para nós!
Conteúdo original publicado por ND+
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