Jaraguá do Sul terá afroteca e homenagem à escritora Carolina de Jesus

Carolina Maria de Jesus será homenageada em Jaraguá do Sul com a criação de uma afroteca e ações culturais Foto: Instituto Moreira Salles
Jaraguá do Sul está desenvolvendo dois projetos voltados à valorização da cultura afro-brasileira. Um deles é a implantação de uma afroteca — biblioteca com acervo voltado à história e produção intelectual negra. O outro tem como foco o resgate da trajetória da escritora Carolina Maria de Jesus, por meio de ações pedagógicas e culturais. As iniciativas surgiram a partir da participação do município em encontros estaduais e nacionais sobre igualdade racial.
Representação em conferência nacional

As propostas foram articuladas pelo professor José Aparecido Félix, vice-presidente do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial, que representou Santa Catarina na Conferência Temática dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana e Povos de Terreiro, realizada em Salvador (BA).
Primeira afroteca será em escola da rede pública
A primeira afroteca será implantada na Escola Lino Floriano, localizada no bairro Santo Antônio, em área periférica da cidade. O espaço funcionará como centro permanente para estudos, oficinas e ações educativas ligadas à cultura afro-brasileira, com foco no público escolar.
A intenção é expandir o projeto para outros municípios catarinenses. “Preenchemos três propostas para Jaraguá do Sul e vamos agora a Brasília com a intenção de buscar, pelo menos, uma afroteca para cada município do estado”, afirmou Félix. A informação foi prestada ao jornalista Sérgio Homrich dos Santos, na manhã desta segunda-feira (16), em entrevista ao Portal Desacato.
Carolina Maria de Jesus é tema de novo projeto cultural
O segundo projeto envolve o resgate da memória de Carolina Maria de Jesus, autora do livro Quarto de Despejo, referência na literatura negra brasileira. A proposta surgiu a partir de uma atividade realizada na Escola Lino Floriano, conduzida pela professora Laura, com apoio de Lília, neta da escritora, que reside em Jaraguá do Sul.
A ação prevê rodas de leitura, debates e exposições sobre a vida e obra de Carolina, com o objetivo de destacar sua relevância histórica e reforçar a importância da literatura negra no ambiente escolar. O projeto também valoriza o vínculo local com a escritora, por meio da participação ativa de sua neta.
Religiões de matriz africana enfrentam desafios
Félix também chamou atenção para os obstáculos ainda enfrentados por praticantes de religiões afro-brasileiras. “Hoje, sacerdotes de religiões de matriz africana enfrentam dificuldades para se aposentar, são perseguidos por usar seus fios de contas, e muitas casas ainda são impedidas de tocar seus tambores, inclusive em Jaraguá do Sul”, relatou.
Ele destacou, no entanto, o crescimento dessa presença no estado. “Em Jaraguá, passamos de cinco para quinze lojas de artigos religiosos. Santa Catarina tem hoje mais de 16 mil casas de matriz africana”, completou.
Próximas etapas da política de igualdade racial no município
No dia 2 de julho, Jaraguá do Sul realiza a plenária de atualização da Conferência Municipal de Promoção da Igualdade Racial, no SESC. O encontro vai revisar as propostas da última conferência e eleger as que serão levadas à etapa estadual, marcada para 9 de julho, em Florianópolis. As inscrições para participar podem ser feitas até 26 de junho.
Na ocasião, será escolhida a delegação jaraguaense e definidas oito propostas prioritárias — três fixas, uma de cada eixo temático, e cinco adicionais — que poderão ser debatidas no âmbito estadual.