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APRENDER PARA CONVIVER – Projeto do Ceja alfabetiza haitianos

Eles vieram de longe, mais precisamente da região do Caribe, do arquipélago das Grandes Antilhas, fugindo da miséria, da fome e da falta de perspectiva profissional

01/01/2019

Eles vieram de longe, mais precisamente da região do Caribe, do arquipélago das Grandes Antilhas, fugindo da miséria, da fome e da falta de perspectiva profissional. Há cerca de dois anos, os haitianos aportaram por aqui com sua força de trabalho e muitas esperanças na bagagem. Foram atuar como operários nas indústrias e na construção civil, se somando aos trabalhadores locais, enfrentando inúmeros desafios na terra estranha, a começar pela dificuldade para se comunicar em português.

E para suprir essa necessidade, desde março o Centro de Educação de Jovens e Adultos (Ceja) implantou o “Projeto Alfabetização de Haitianos na Língua Portuguesa” que, como o próprio slogan da instituição diz, está “educando e transformando” a vida de 14 estudantes (duas são mulheres), da unidade de Jaraguá do Sul, mais 15 alunos em Schroeder.

Segundo a diretora do Ceja de Jaraguá do Sul, Deni Rateke, foram as próprias empresas contratantes que procuraram uma solução ao aprendizado e adaptação dos funcionários haitianos. A partir daí, foi buscada uma alfabetizadora para ensinar os estrangeiros, que tem se mostrado alunos dedicados e empenhados em aprender. O grande sonho deles é poder trazer as famílias para viver no Brasil.


No desfile cívico de 7 de Setembro, em comemoração à Independência do Brasil, chamou a atenção a ala do Ceja composta pelos alunos haitianos, que desfilaram solenemente, abanaram para o palanque das autoridades e foram bastante aplaudidos pelo público.

Santa Catarina “é o paraíso” para eles

Dados recentes apontam Santa Catarina como “o paraíso para os haitianos”, em comparação com a realidade de outros Estados brasileiros, onde já foram registrados casos análogos à escravidão, “coiotes” e violência. Na delegacia da Polícia Federal de Itajaí, são atendidos em média 80 haitianos todos os dias.

A grande leva de haitianos começou a se alastrar pelo Brasil e pelo mundo especialmente após o terremoto que assolou o País, em 2010. Some-se a isso a instabilidade política daquele país, que hoje é governado com a colaboração das forças de paz da ONU (Organização das Nações Unidas), com o Brasil à frente.

Português é o quinto idioma

A diretora do Ceja, Deni Rateke, confirma que eles dominam quatro idiomas. Além da língua oficial, o francês, falam inglês, espanhol e crioulo. Aqui, o ensino da quinta língua passou a ser feito através de uma metodologia por associação, apresentando imagens (figuras representativas) e ensinando a pronúncia das palavras. Eles também trazem palavras que ouviram para serem ensinadas em aula.

“Já que o Brasil deu essa abertura, nós, como educadores, temos que fazer com que se sintam bem aqui. Fizemos e projeto e deu certo”, comemora a diretora Deni. As aulas acontecem sempre as segundas, terças e quintas-feiras à noite. As aulas com a turma de Schroeder acontecem em sala cedida pela Metalúrgica Menegotti.

“São muito dedicados”

A professora do projeto, a acadêmica de Pedagogia pela Uniasselvi, Semiramis Mundel, observa que a maioria chegou com uma apostila do idioma crioulo para o português, o que facilita na hora de assimilar as aulas. Já a turma de Schroeder é matutina, em sala cedida pela Metalúrgica Menegotti.

Semiramis revela que um dia foram levados a um supermercado, para conhecer a diversidade e a diferença entre os produtos, especialmente as frutas, já que ,muitas não são encontradas no Haiti. “O empenho deles é grande. Está sendo muito gratificante. É uma troca de aprendizagens”, atesta a alfabetizadora.

Duas histórias, dois desafios

Greg Pierre Charles, 32 anos, conta que está em Jaraguá do Sul há um ano e cinco meses. Veio com o primo Diabennson. Deixou a mulher Wwdnise e a filha Rihmaria, de nove anos. Ele trabalha na obra de ampliação do Jaraguá do Sul Park Shopping, divide a moradia com o primo e projeta dias melhores.

“Estou gostando muito daqui, da oportunidade da escola e de trabalho”, declara, sorrindo. Ele diz que pensa em trazer a família logo que possível e reconhece que a saudade é grande. Mesmo assim, garante que muitos outros haitianos querem vir para cá. “Aqui os professores têm muita paciência para ensinar”, afirma agradecido.

O colega Jean François Saintlmond, 30, também deixou a mulher, duas meninas e um menino na terra natal. Conta que chegou a trabalhar por três meses em Minas Gerais, antes de chegar a Santa Catarina. Ele está há um ano e três meses em Jaraguá do Sul. “Estou gostando pela oportunidade de trabalhar”, garante ele, que atua como montador de painel em uma empresa de carrocerias da cidade.

“Depois de dois, três anos, quero voltar. É difícil trazer a família para cá”, opina. Nas horas de folga, passeia no Parque Malwee e caminha para conhecer mais a cidade. Jean referenda as palavras de Greg, de que a paciência da professora ajuda a superar as dificuldades em aprender a língua portuguesa.

 

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