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Coluna: A dívida secular com os povos originários

O tema remonta ao século 16, à descoberta do “Novo Mundo” pelos invasores europeus, que desembarcaram com suas naus movidos pela ambição de riquezas e dispostos a rechaçar os povos originários. Na crônica “Eles chegaram!”, retratei a dor de famílias indígenas em desesperada fuga, após terem suas cabanas incendiadas e…

22/01/2023

O tema remonta ao século 16, à descoberta do “Novo Mundo” pelos invasores europeus, que desembarcaram com suas naus movidos pela ambição de riquezas e dispostos a rechaçar os povos originários. Na crônica “Eles chegaram!”, retratei a dor de famílias indígenas em desesperada fuga, após terem suas cabanas incendiadas e serem discriminados ao adentrarem em uma cidade. Séculos se passaram, mas ao que tudo indica, pouco ou nada mudou nesse sentido.

Em tempos longínquos – antes da chegada dos “conquistadores” com a alma corrompida pela cobiça e sangue nos olhos para expulsar os habitantes de seus territórios, “todo o dia era dia de índio”, como canta Baby do Brasil: a pesca era abundante, a comida era farta e os curumins viviam felizes e saudáveis nas aldeias, crescendo e apreendendo a respeitar a Mãe Natureza.

A partir daí, o roteiro todos nós conhecemos: batalhas travadas e tribos dizimadas. Os poucos  remanescentes foram cada vez mais empurrados para viver em reservas, isolados e em condições precárias de sobrevivência, com raras exceções.

Em pleno século 21 – apesar de oficialmente existirem leis que garantam o direito territorial e assistência aos primeiros habitantes do Brasil – o descaso se perpetuou. O que se vê na prática é o avanço do garimpo ilegal, os conflitos permanentes entre garimpeiros e indígenas, a degradação crescente do meio ambiente e o perigoso comprometimento do ecossistema.

E para piorar o quadro, as imagens estarrecedoras de crianças esquálidas da nação Yanomami, mostradas essa semana em detalhes pela mídia, são irrefutáveis e escancaram uma realidade que não pode ser minimizada, muito menos negada.

A situação em Roraima, na Terra Indígena Yanomami, que soma em torno de 30 mil indígenas, indica que somente em 2022, 99 crianças morreram por doenças tratáveis, como desnutrição, malária e parasitismo intestinal. As “unidades de saúde” disponíveis, completamente insalubres, em espaços sem a mínima condição sanitária para funcionamento, a falta de atendimento médico e de medicamentos básicos, comprovam o abandono e o total desprezo dispensado às vidas humanas que lá habitam.

Detalhe: estamos falando de saúde pública, da responsabilidade da Federação em cumprir seu papel de Estado com os povos originários, que não é de hoje, independente de gestão. Trata-se de uma verdade incômoda para muitos, que preferem fechar os olhos aos fatos, ou deturpar os acontecimentos.

Os Yanomami e as demais nações indígenas espalhadas pelo País, do Oiapoque ao Chuí, merecem ser tratados com dignidade e terem seus direitos respeitados. Sempre mereceram! Essa é uma dívida secular que temos com os nossos povos originários e nos envergonha como cidadãos.

Por

Sônia Pillon é jornalista e escritora, formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Integra a AJEB Santa Catarina. Fundadora da ALBSC Jaraguá do Sul.

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