Coluna: Fáceis porque são pobres?!
Para combater o machismo é preciso começar educando os meninos, ensinando a tratarem as meninas com a dignidade e o respeito que elas merecem.

Repugnante, deplorável, inaceitável! Faltam palavras para expressar a indignação causada pelo conteúdo machista do deputado estadual Arthur do Val, na gravação em que se refere às mulheres ucranianas. Como calar e não sentir repulsa diante desse fato?
O mundo tem acompanhado estarrecido as imagens de milhares de mulheres, crianças e idosos fugindo da guerra, sem saber o que os espera lá na frente. Mães estão enfrentando o frio, a fome, a sede e o cansaço para protegerem seus filhos e se resguardarem de todo o tipo de violência. Foram obrigadas a se despedir das famílias, já que os homens de 18 a 60 anos permanecem no país para resistir aos ataques das tropas de Vladimir Putin.
E é em meio a esse drama humanitário que tomamos conhecimento do parlamentar brasileiro que esteve na Ucrânia – aparentemente na intenção “altruísta” de ajudar na confecção de coquetéis molotov – se referiu às ucranianas como se objetos fossem.
Então quer dizer, deputado Arthur do Val, que “as ucranianas são fáceis porque são pobres?!”. Uma afirmação antiética, preconceituosa, desumana. Mais do que isso: uma total insensibilidade com o sofrimento daquelas mulheres, considerando as circunstâncias e os riscos que estão sendo submetidas. Mulheres merecem respeito, na Ucrânia e em qualquer lugar do planeta.
Ao ter o áudio escancarado no retorno ao Brasil, bem que o parlamentar, também conhecido como “Mamãe Falei”, tentou se justificar. Mas de nada adianta dizer que era uma gravação feita “em um momento de empolgação”, e que tudo não passou de “um mal entendido”. Não há como negar as declarações sexistas proferidas por ele. Evidentemente, o repúdio veio de todas as frentes. Palavras ditas são como flechas lançadas.
Temos que parabenizar quem anonimamente vazou a gravação, porque até então o “Mamãe Falei” tinha pretensões de se candidatar ao Governo de São Paulo. Ele também tinha uma namorada, que obviamente rompeu o relacionamento após o ocorrido.
Estamos em pleno século 21, no Mês da Mulher e às vésperas do Dia Internacional da Mulher, na próxima terça-feira, 8 de março. E é triste admitir, mas a ideia de que “são fáceis porque são pobres” ainda permanece em mentes jurássicas.
As mulheres que vivem nos bairros de periferia, que trabalham, estudam, utilizam o transporte público, gastam a sola do sapato todos os dias e são “pobres”, conhecem bem essa realidade. Elas, muitas vezes, são avaliadas com base em estereótipos, humilhadas e desvalorizadas por conta da fragilidade econômica. São pobres, verdadeiramente, as pessoas que julgam e agem como o deputado do Val, desmascarado publicamente em sua arrogância e preconceito.
Mas de que forma podemos combater o machismo? Começando pela maneira de educar os filhos homens, sem perpetuar atitudes condenáveis. Ensinando os meninos desde cedo a tratarem as meninas com a consideração, a dignidade e o respeito que elas merecem, independente da classe social. Quando crescerem e se tornarem homens, com certeza esses garotos terão um outro olhar para as mulheres.
Sônia Pillon
Sônia Pillon é jornalista e escritora, formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Integra a AJEB Santa Catarina. Fundadora da ALBSC Jaraguá do Sul.