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Coluna: O adeus da Mulher do Fim do Mundo

Elza Soares alcançou o apogeu nos últimos anos de vida. Será sempre inspiração para as mulheres que lutam por seus espaços, por dignidade e respeito.

23/01/2022

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Sônia Pillon é jornalista e escritora, formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Integra a AJEB Santa Catarina. Fundadora da ALBSC Jaraguá do Sul.

Essa é uma história que começou triste, mas que teve um final feliz, glorioso. Se fossemos transformar em sinopse de um filme biográfico, bem poderia começar assim: “A protagonista é carioca, preta e pobre, nasceu no morro durante a década de 1930, em uma época que essas três características somadas eram praticamente uma condenação, um beco sem saída, mas foi salva pela voz inigualável, que a levou aos mais prestigiados palcos do mundo”.

Nos bastidores, a tragédia sempre rondou a vida dela. Casou aos doze anos obrigada pelo pai e ficou viúva aos 21. Foi mãe pela primeira vez aos 13. Dos oito filhos que gerou ao longo da vida, perdeu quatro. Os dois primeiros, quando ainda era adolescente, morreram de fome. Depois perdeu o filho do grande amor da sua vida, o jogador de futebol Garrincha. Na época, “Garrinchinha” tinha nove anos. Mais recentemente o filho Gilson, então com 56 anos, em 2015.

Descortinando o véu do passado, fica claro que aquela garotinha negra tinha garra. Era uma guerreira nata, destemida. Teve a infância roubada, não pôde escolher o marido. Foi vítima da violência doméstica, do machismo e do preconceito. Uma mulher que amou demais, intensa em tudo o que viveu.

E apesar de todas as mazelas, desde cedo aprendeu a superar a dor e a transmutar lágrimas em sorrisos. Vencer, ou vencer, esse sempre foi o lema! De levantar a cada queda. De se reinventar e seguir sempre em frente.

Felizmente, a menina nascida no “Planeta Fome” trouxe de berço um talento ímpar para o canto. Com uma voz  visceral, interpretava o que vinha da alma, do coração, do útero. Presenteava as plateias com a alquimia mágica da arte amalgamada com o amor.

A Voz do Milênio, a Mulher do Fim do Mundo! Merecidamente, a cantora e compositora brasileira que tinha um timbre só dela alcançou o apogeu da carreira nos últimos anos de vida.

As cortinas se fecharam no dia 20 de janeiro, mas o público segue a aplaudindo de pé! Ela foi e sempre será inspiração, não somente para as mulheres negras, mas para todas as mulheres que lutam pelos seus espaços na sociedade, por igualdade e respeito.

Siga na Luz, Elza Soares! Vá em Paz! Você cumpriu a missão de forma magistral.

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