Coluna: Todo dia é dia de… indígena! Será?!

Guarani, Kaingang, Pataxó. Pindorama, Sateré-Mawé, Kuikuro, Truká, Kiriri, Kaimbé, Guajajara, Manduruku, Terena, Karajá, Tembé, Krenak… E por aí vai! A lista dos povos originários do Brasil é extensa, e como no último sábado (19) transcorreu o “Dia do Índio”, ou “Dia do Indígena”, como chamamos hoje, assim como não se fala mais tribo, mas sim, de povo Guajajara, Tikuna, Xucuru… A canção “Todo o dia era dia de índio”, nome da música de autoria do cantor e compositor Jorge Ben Jor, escrita em 1982 e interpretada por Baby do Brasil, retrata a realidade anterior à chegada dos europeus por aqui, quando a única preocupação dos primeiros habitantes dessa terra era eventualmente guerrear com os grupos rivais. Fora isso, tinham toda a exuberância das matas, águas límpidas e solo fértil para plantar e colher. Até hoje, as florestas habitadas por indígenas são muito mais preservadas. E nunca é demais lembrar que sem floresta não tem vida!
Considerando as poucas reservas indígenas em comparação com a vastidão territorial do Brasil e os impasses, as pendengas jurídicas e os confrontos com latifundiários e exploradores de minérios ilegais em suas terras, realmente há muito pouco a comemorar. As pressões para a demarcação de mais terras e a garantia de direitos básicos, como segurança, investimentos na educação e infraestrutura na de saúde continuam, mas os avanços demoram e dependem de vontade política.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022, o número de indígenas residentes no Brasil era de 1.693.535 pessoas, o que representava 0,83% da população total do país. Em 2010, o IBGE contou 896.917 mil indígenas, ou 0,47% do total de residentes no território nacional.
Políticas públicas precisam avançar
Mas o que o governo federal está fazendo em prol dos povos originários? A notícia mais recente é que o governo federal planeja interconectar todas as unidades de saúde indígena do Brasil até o fim de 2026, para garantir que todos os estabelecimentos públicos responsáveis pela atenção primária à saúde tenham acesso à internet de qualidade. A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, disse no dia 19 que a pasta “está fazendo um trabalho inédito na construção das ações para valorizar os povos indígenas no país”. A ministra celebrou o Dia dos Povos Indígenas e afirmou que, ao longo de 27 meses de governo, enfrenta o desafio correr atrás de demandas até então negligenciadas. A tarefa é árdua e exige, também, mobilização dos indígenas em Brasília para lutarem por seus direitos garantidos pela Constituição de 1988.
A origem do dia 19 de Abril
Desde 1943 o país celebra o Dia do Índio em 19 de abril. A data foi instituída, por decreto, pelo então presidente Getúlio Vargas, 443 anos após a chegada dos colonizadores no Brasil. Nessa data são resgatadas memórias, saberes ancestrais pelos meios de comunicação, período em que os indígenas são apresentados nos lugares onde vivem, as ações desenvolvidas pelas lideranças na transmissão das tradições às novas gerações das aldeias. A importância das escolas indígenas e o poder transformador da educação escolar pode fazer toda diferença, por exemplo, na escolha de uma carreira para os jovens das aldeias. ;e nunca é demais lembrar que não é preciso ser indígena para lutar e defender causas.
Ailton Krenak, o primeiro indígena na ABL
O indígena Ailton Krenak, que desde 2024 tomou posse da cadeira de número 5 na Academia Brasileira de Letras (ABL), nasceu em 29 de setembro de 1953, no município de Itabirinha, no estado de Minas Gerais, na região do Médio Rio Doce. Ele é sem dúvida é um espelho para os jovens indígenas brasileiros pelo pioneirismo. Aos dezessete anos de idade, mudou-se com sua família para o Paraná, onde se alfabetizou, se tornou produtor gráfico e jornalista. Na década de 1980, passou a dedicar-se exclusivamente ao movimento indígena. Em 1985, fundou a organização não governamental Núcleo de Cultura Indígena. Teve emenda popular assegurando sua participação no Congresso Nacional do Brasil para o processo constituinte em 1986.
Participou da Assembleia Nacional Constituinte que elaborou a Constituição Brasileira de 1988, na qual protagonizou uma das cenas mais marcantes da mesma: em discurso na tribuna, pintou o rosto com a tinta preta do jenipapo, segundo o tradicional costume indígena brasileiro, para protestar contra o que considerava um retrocesso na luta pelos direitos dos povos indígenas brasileiros.
Em 1988, participou da fundação da União dos Povos Indígenas, organização que visa a representar os interesses indígenas dentro do cenário nacional. No ano seguinte, participou da Aliança dos Povos da Floresta, movimento que visava ao estabelecimento de reservas naturais na Amazônia onde fosse possível a subsistência econômica através da extração do látex da seringueira, bem como da coleta de outros produtos da floresta. Retornou a Minas Gerais, onde passou a se dedicar ao Núcleo de Cultura Indígena. Desde 1998, a organização realiza, na região da Serra do Cipó, em Minas Gerais, um festival idealizado por Ailton: o Festival de Dança e Cultura Indígena. Recebeu prêmios e reconhecimentos. Como escritor, já teve cinco obras publicadas com a temática indigenista. (Fonte: Wikipedia).
Sônia Pillon
Sônia Pillon é jornalista e escritora, formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Integra a AJEB Santa Catarina. Fundadora da ALBSC Jaraguá do Sul.