Cotidiano | 17/06/2025 | Atualizado em: 24/06/25 ás 17:09

O jaraguaense que largou tudo para viver seu maior sonho na Irlanda

O jaraguaense que largou tudo para viver seu maior sonho na Irlanda

Foto: arquivo pessoal

A mala estava pronta, o inglês afiado, e o coração dividido entre a ansiedade de partir e a certeza de que não havia mais como adiar um sonho. Aos 26 anos, Marcelo Butzke não estava apenas deixando Jaraguá do Sul, estava indo ao encontro de um projeto ambicioso, que nasceu ainda na infância.

Desde pequeno, ele se sentia fascínio pelo novo, pelo diferente, pelas possibilidades escondidas em outras culturas. “Sempre tive uma curiosidade muito natural de descobrir o mundo. Me encantava a ideia de viver entre pessoas que falassem outro idioma e ver uma arquitetura nova ao meu redor”, relembra.

E, em janeiro de 2013, embarcou para Dublin, na Irlanda, disposto a transformar essa vontade antiga em realidade concreta. E o que ele descobriu? Que uma vida nova, cheia de amigos e experiências, o aguardava – mas não antes de passar por muito perrengue na adaptação e os desafios de viver sozinho do outro lado do mapa, longe do Brasil e de quem ama.

Homem agasalhado ao lado de boneco de neve em frente a casa de tijolos na Irlanda
Foto: arquivo pessoal

Esta matéria faz parte da série especial “Jaraguaenses mundo afora”, que compartilha histórias reais de quem partiu em busca de novos caminhos, recomeços e sentidos — mas que, mesmo longe, carrega Jaraguá do Sul como parte essencial de quem é.

De um sonho antigo ao desembarque em Dublin

A ideia de sair do Brasil surgiu há muito tempo, entre a infância e a adolescência, enquanto cursava inglês no CCAA, e sonhava em fazer intercâmbio para estudar em uma faculdade internacional. Na época, sem condições para realizar bancar um projeto desses, Marcelo decidiu seguir a vida e se formar aqui no Brasil mesmo. Concluiu a graduação em design gráfico e, mesmo já inserido no mercado de trabalho, o desejo de morar fora nunca desapareceu.

“Sempre que via um estrangeiro por aqui, tentava me aproximar. Tinha sede de conhecer outras culturas.”

Foi em janeiro de 2013 que ele finalmente desembarcou na capital irlandesa. Tinha tudo organizado, e dinheiro suficiente para se manter por oito meses fora do país. Escolheu a Irlanda pela língua inglesa, pelas boas condições de visto no acolhimento de brasileiros, e com um polo crescente de empresas de tecnologia. “Tinha Facebook, Google, muitas oportunidades para designers. Era a escolha certa.”

Chegou no novo país com um visto de estudante e o plano de buscar um emprego na área. Como na época não tinha cidadania europeia, foi por meio de um curso de General Business Studies que encontrou sua porta de entrada por lá – o que garantiu visto de 6 meses de estudo e 6 meses de trabalho. O plano era: de se não encontrasse uma oportunidade profissional, voltaria para o Brasil.

Homem com roupa verde em meio à multidão durante o St. Patrick's Day em Dublin
Jaraguaense em 2013 participou do St. Patrick’s Day, festa tradicional da Irlanda. | Foto: arquivo pessoal

Mas acho que deu pra notar que tudo deu certo por lá, não é? Afinal, há mais de 11 anos ele chama a Irlanda de “lar, doce lar”.

Impacto cultural e primeiros aprendizados

Mas como nada na vida é fácil, o período de adaptação não foi simples. Apesar de estar vivendo seu maior sonho, Marcelo conta que passou por muitos desafios. O clima do país, principalmente, foi um dos maiores contrastes.

“Aqui venta muito, faz frio e quase sempre o céu está nublado. A chuva é constante, mas leve. Não chega a ser como as tempestades de Jaraguá”, garante.

E não só isso, o clima influencia diretamente o estilo de vida irlandês. Boa parte da vida social acontece em ambientes fechados — especialmente nos pubs. “Aniversários, feriados, festas nacionais… tudo é resolvido no pub. É bacana, mas nem sempre estou no clima de festa”, comenta.

Outra coisa que ele notou com o tempo foi a dificuldade em fazer amigos locais. “Os irlandeses são amigáveis, mas demoram a se abrir. Hoje, ironicamente, meu melhor amigo é irlandês e já viajamos juntos para vários países.”

Ele ainda ressalta que Dublin tem voos diretos para muitos destinos europeus, o que facilitou muitas viagens durante as férias e folgas ao longos dos anos. “Já conheci mais de trinta países, o que é fantástico”, diz.

Muitos dos aprendizados valiosos no novo país, o jaraguaense adquiriu nas vivências em república. Nos primeiros meses, morou com seis pessoas, dividindo o quarto com mais duas. “Foi uma experiência intensa. Tive a oportunidade de conviver com gente da Coreia, México, França, Croácia, Venezuela, Itália e até do Rio de Janeiro.”

Trio de amigos posa sorridente em frente ao castelo de Malahide coberto por heras na Irlanda
Marcelo em 2013, quando visitou o castelo de Malahide com amigas. | Foto: arquivo pessoal

A vida que criou para si

Hoje, mais de uma década depois, Marcelo está bem e feliz com tudo o que construiu por lá. Trabalha em uma empresa de comércio eletrônico, com a vantagem do trabalho remoto. Com isso, consegue visitar Jaraguá anualmente. “Faço questão de ir todos os anos. Amo o Brasil, mas infelizmente o mercado de design não oferece a mesma renda que aqui.”

Homem posa de forma descontraída diante do Atomium, monumento icônico de Bruxelas
Em frente ao emblemático Atomium, em Bruxelas. | Foto: arquivo pessoal

Estável, vive sozinho em um bairro bom, pagando um aluguel considerado baixo para os padrões locais, graças a um contrato antigo: 850 euros por mês. “O aluguel é disparado o maior custo de vida aqui. As casas também são muito antigas, sem isolamento térmico. No inverno, mesmo com aquecedor, é bastante frio.”

E falando em inverno, ele conta que os dias são bem mais curtos. Durante a estação, é comum começar a escurecer às 16h, com temperaturas negativas e, às vezes, com neve.

Já nos verões irlandeses, ele diz se sentir muito mais conectado com a cidade. “Faz 25ºC e o sol se põe às 22h30. É a melhor época para se estar aqui. Tem dias que até esqueço de jantar, devido à mudança de horário.”

Homem sorri entre campo de flores amarelas com vista para o mar e colinas na Irlanda
Marcelo em um vasto campo de flores silvestres, durante passeio pela praia de Greystones, na Irlanda. | Foto: arquivo pessoal

Mesmo que o estilo de vida por lá seja muito mais em ambientes fechados, Marcelo costuma se dedicar a atividades externas sempre que possível, como montanhismo e participa ativamente ao um grupo de roller que tem muitos emigrantes para trocar experiências.

Identidade entre fronteiras

Apesar de ter cidadania italiana e o direito ao passaporte irlandês, Marcelo não sente necessidade de oficializar essa nova nacionalidade. “Com uma cidadania europeia já é possível morar em qualquer país da União Europeia.”

Homem equipado com roupa de esqui posa em pista nevada nos Alpes com montanhas ao fundo
Se aventurando no esqui, a foto é um registro de Marcelo em 2024 durante uma viagem à França. | Foto: Arquivo pessoal

Carrega consigo tradições jaraguaenses, especialmente a ligação familiar. “Gosto muito da minha terra. O que mais sinto falta é a comida, o clima tropical, e claro, minha família.”

Apesar do conforto atual, seus planos continuam em movimento. Gosta de idiomas e pensa em morar na França, Itália ou Espanha. Mas o retorno ao Brasil está nos horizontes: “Se eu conseguisse uma renda passiva, com certeza voltaria.”

Grupo diverso de pessoas posa com patins em área externa ensolarada em Dublin
Registro de 2020, Marcelo com os amigos patinadores em Dublin. | Foto: arquivo pessoal

Para quem sonha em partir

Ao olhar para trás, Marcelo reconhece que a jornada moldou profundamente quem é hoje. Descobriu ser uma pessoa resiliente e capaz de se reinventar, principalmente quando se trata de um propósito.

Aprendeu a se adaptar em meio ao desconhecido e percebeu que, muitas vezes, é no desconforto que nasce o crescimento. A quem também sonha em morar fora, ele sugere avaliar se a mudança realmente vale para cada um; se está disposto a recomeçar independentemente das adversidades.

Homem encostado em cabine telefônica vermelha com ônibus londrino ao fundo
Marcelo em 2013 durante primeira viagem que fez após se mudar para a Irlanda. | Foto: Arquivo pessoal

“Ir morar em outro país pode trazer muitas saudades. Mas, para mim, foi algo natural, porque era o meu sonho”, reforça Marcelo. E é justamente por isso que, apesar dos desafios, ele enxerga a experiência como uma verdadeira escola de vida — capaz de tirar qualquer pessoa do piloto automático e provocar uma reconexão com seus próprios objetivos.

Como isso impacta a sua vida?

Viver fora do Brasil mudou não só a trajetória pessoal e profissional de Marcelo, mas também sua percepção de mundo. A experiência o ensinou a valorizar o que antes era rotina, a abraçar o desconhecido com mais leveza e a perceber a riqueza das diferenças.

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Gabriela Bubniak

Jaraguaense de alma inquieta e jornalista apaixonada por contar boas histórias. Tenho fascínio por livros, música e viagens, mas o que me move é viver a energia de um bom futsal na Arena e explorar o que há de melhor na nossa terrinha.

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