Tanto faz | 10/12/2025 | Atualizado em: 10/12/25 ás 14:17

A jaraguaense que transformou uma mudança inesperada em carreira na TV mexicana

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A jaraguaense que transformou uma mudança inesperada em carreira na TV mexicana

A jaraguaense Jessica Luba durante gravação de conteúdo esportivo em um estádio mexicano. | Foto: arquivo pessoal

Quando deixou Jaraguá do Sul em outubro de 2013, Jessica Luba acreditava que ficaria fora por apenas três meses. Era um contrato temporário, uma pequena pausa na rotina, um respiro. Nada mais. Mas aquele embarque se tornaria o início de uma vida completamente nova – e definitiva – em outro país.

“Eu sempre digo que vim para ficar três meses… e nunca mais voltei”, brinca. A jovem, então, estudante universitária, se viu diante de um caminho que nem ela imaginava trilhar: construir sua história no México, onde hoje é apresentadora, modelo e repórter esportiva.

Já são doze anos no país em que ela agora chama de lar. Vive na Cidade do México, ao lado do filho Noah, e se sente profundamente conectada à terra que a acolheu, mas também à que deixou para trás.

Jéssica Luba posando em frente ao letreiro da TV Azteca Deportes na Cidade do México.
Foto: arquivo pessoal

Esta matéria faz parte da série especial “Jaraguaenses mundo afora”, que compartilha histórias reais de quem partiu em busca de novos caminhos, recomeços e sentidos. Mas que, mesmo longe, carrega a nossa região como parte essencial de quem é.

A decisão que mudou o rumo de tudo

Na época, Jessica cursava Administração e Finanças em Jaraguá do Sul e levava uma vida típica de estudante universitária. Então, a oportunidade de trabalhar temporariamente fora do país surgiu como uma pausa bem-vinda na rotina – além da chance de conhecer uma nova cultura, ganhar uma experiência profissional internacional e, quem sabe, viver uma breve aventura.

O contrato que tinha era de apenas três meses e, segundo ela, a ideia era simples: embarcar, trabalhar, aproveitar e voltar.

Porém a chegada ao México trouxe, logo nos primeiros dias alguns desafios. Jessica sentiu o peso da adaptação: tudo era diferente – o idioma, o ritmo da cidade, os costumes, a comida. E, ainda assim, havia algo naquele lugar que a conectava de forma profunda. Mesmo diante da barreira do idioma – ela não falava espanhol nem inglês -, sentiu que ali havia espaço para crescer.

“Para mim, que sempre amei me conectar com as pessoas, era frustrante não conseguir me expressar, mas essa limitação me fez buscar mais. Me desafiou e me empurrou”, diz.

Com o tempo, o México foi deixando de ser apenas um endereço temporário. Ela encontrou amigos, desenvolveu afeto pela cultura local, e viu novas oportunidades surgirem. E aquele sentimento de querer “voltar depois de um tempo” começou a desaparecer. Foi nesse processo que ela começou a reconstruir sua identidade longe de casa.

Ela chegou a trabalhar por um período na Turquia, e retornou ao Brasil por um tempo após o falecimento da mãe, mas, entre idas e vindas, descobriu que o México já era o seu lar.

“Esse momento mudou tudo na minha vida. Mas também me fez perceber ainda mais o quanto minha vida já estava enraizada aqui.”

Uma das últimas fotos de Jessica ao lado da mãe, Tânia Dantas. | Foto: arquivo pessoal

Quase 12 anos depois, olhando para trás, Jessica entende que aquela decisão aparentemente simples de viajar mudou tudo. E mesmo com os desafios iniciais, foi ali que ela se descobriu capaz de ir muito além do que imaginava.

Entre a gastronomia picante e os deslizes no espanhol

A adaptação ao México também se deu com episódios cômicos, que até hoje fazem parte do repertório de histórias bem humoradas de Jessica. E uma das primeiras foi uma aventura gastronômica; certa vez, em um restaurante.

“Na primeira vez que pedi um taco, toda inocente, perguntei: ‘¿Pica?’ O moço respondeu: ‘Pica poquito’, para explicar que a comida era um pouquinho picante. Mas, minha filha, parecia que eu tinha engolido um dragão cuspindo fogo”, relembra, entre risos.

Desde então, ela confessa que nunca mais confiou nas classificações de intensidade picante feitas pelos locais, porque, para um mexicano, tudo que é picante na culinária, é “poquito”.

E não foi só o paladar que sofreu. O idioma também pregou boas peças. Jessica, sempre comunicativa, rapidamente percebeu que o espanhol exige atenção aos detalhes – e que uma pronúncia errada pode mudar completamente o sentido de uma frase.

A gafe mais memorável foi com o verbo “correr”. Em português, um termo comum, usado no esporte e no cotidiano. Mas, em espanhol, com um simples erro de entonação, pode soar como “cojer”, que, em muitos países de língua espanhola, é uma gíria popular usada para se referir ao ato sexual. Um deslize assim pode transformar uma frase inocente em algo completamente constrangedor.

“Imagina você, toda tranquila, querendo convidar alguém para dar uma corrida no parque e solta um ‘quer ir no parque cojer?’… Só pela cara das pessoas eu já entendi que alguma coisa estava muito errada”, lembra.

Hoje, essas situações que antes causavam vergonha viraram lembranças divertidas. E mostram como Jessica aprendeu a rir de si mesma e abraçar os tropeços como parte do processo de recomeçar.

A rotina de uma brasileira que conquistou espaço na TV mexicana

Atualmente Jessica vive uma rotina intensa, marcada pelo dinamismo do jornalismo esportivo e pela disciplina de quem precisou se reinventar longe de casa. Morando na Cidade do México, ela divide seus dias entre gravações na TV Azteca, estudos, treinamentos de voz e dicção e a preparação constante para entrar no ar. E, mesmo com a rotina corrida, ela conta que se sente realizada, porque vive diariamente aquilo que ama.

“Meu dia gira em torno do esporte. Estou sempre estudando, acompanhando notícias, me atualizando. É um trabalho que exige muito, mas me traz uma felicidade enorme”, explica.

Além de apresentar o ADN Deportes, aos sábados, Jessica participa de boletins esportivos ao longo do dia e integra o DEPORTV e o Deportv Express, programas conhecidos nacionalmente. Ela também faz coberturas externas, entrevistas, dinâmicas com torcedores e conteúdos especiais — atividades que foram abrindo portas e fortalecendo sua presença na mídia.

Um dos seus quadros preferidos, “Jugando con Recuerdos”, permite que ela converse com atletas e personalidades do esporte, revisitando fotos e histórias marcantes de suas trajetórias. Para Jessica, é um espaço onde o jornalismo encontra sensibilidade, um formato que ela abraça com carinho.

A entrada na televisão, porém, não aconteceu da noite para o dia. Ela lembra com gratidão do incentivo de Letícia Lacowicz Santos, amiga de Guaramirim que também vive no México e a convidou para participar de um casting. As duas foram selecionadas, um daqueles encontros que mudam destinos.

“Nada foi fácil, mas tive pessoas incríveis ao meu lado. Isso fez toda a diferença”, diz. Com paciência, persistência e coragem, Jessica encontrou seu lugar na mídia mexicana – e segue construindo, passo a passo, uma carreira sólida e apaixonada.

Jéssica Luba participando de um programa esportivo sentado com comentaristas e mesa com camisetas de times.
Foto: arquivo pessoal

O México que virou lar definitivo

Com o passar dos anos, o México deixou de ser apenas um país estrangeiro e se transformou no lugar onde Jessica construiu uma vida inteira. Foi ali que ela viveu alguns dos seus maiores aprendizados, encontrou oportunidades inesperadas e, principalmente, celebrou o maior acontecimento de sua história: o nascimento do filho Noah, mexicano de alma e energia.

“O México é muito mais do que onde vivo. Aqui construí minha carreira, minha família, minha nova versão”, resume.

Fora do trabalho, sua rotina inclui momentos dedicados à saúde, ao descanso e às pessoas que ama. Ela conta que o ritmo acelerado da profissão exige pausas bem feitas, e é nos períodos em casa, com o filho, que ela recarrega energias.

Ao mesmo tempo, mesmo tão integrada à cultura mexicana, Jessica nunca deixou para trás suas tradições brasileiras e jaraguaenses. “Essas raízes fazem parte da minha essência. É algo que carrego todos os dias”, afirma.

Pequenos rituais, comidas, músicas e hábitos são sua forma de continuar conectada a Jaraguá do Sul – e também de transmitir esse pedacinho do Brasil ao filho.

Entre saudades, raízes e novos planos

Apesar de se sentir acolhida no México, a saudade do Brasil nunca deixou de fazer parte da sua vida. Jessica sente falta da família, dos amigos de infância, das conversas despreocupadas na varanda, da cuca, do café da tarde e do ritmo mais tranquilo de Jaraguá do Sul.

São memórias afetivas que permanecem vivas e que a conectam à sua história sempre que retorna ao país. “Quando volto, me reconecto com minhas raízes. É como recarregar as energias”, conta.

Ela não descarta a possibilidade de voltar a morar no Brasil algum dia e, inclusive, já nutre alguns planos para o futuro.

“A palavra ‘nunca’ não existe. Tenho vontades, ideias, até alguns projetos em mente para Jaraguá… mas tudo no seu tempo”, revela.

Como isso impacta a sua vida?

Histórias como a de Jessica Luba mostram que recomeçar fora do Brasil é um processo profundo, que vai além da mudança de país e envolve enfrentar medos, incertezas e a necessidade constante de se reinventar, ao mesmo tempo em que se preservam as raízes que moldam a si mesmo. No fim, cada jaraguaense que parte leva consigo a identidade da nossa cidade e prova que, independentemente da distância, nossas raízes permanecem firmes.

Leia outras matérias da série “Jaraguaenses mundo afora”:

Conhece alguma história parecida, de gente que vive longe, mas leva Jaraguá do Sul no coração? Escreva para: redacao@nascecom.com.br.

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Gabriela Bubniak

Jaraguaense de alma inquieta e jornalista apaixonada por contar boas histórias. Tenho fascínio por livros, música e viagens, mas o que me move é viver a energia de um bom futsal na Arena e explorar o que há de melhor na nossa terrinha.

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