Cotidiano | 15/07/2025 | Atualizado em: 01/08/25 ás 10:55

A jaraguaense que trocou o marketing por um novo começo nos Estados Unidos

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A jaraguaense que trocou o marketing por um novo começo nos Estados Unidos

Amanda Neris, de Jaraguá do Sul, vivendo sua experiência como de intercâmbio em Wisconsin, Estados Unidos. | Foto: Arquivo pessoal

Assim que embarcou para os Estados Unidos, em 2024, Amanda Neris só conseguia pensar: “Que loucura, eu realmente estou fazendo isso”. Era uma mistura de medo, empolgação e alívio. Ela nunca tinha saído do país, mas mergulhou nessa aventura de corpo e alma para realizar sonhos e viver a experiência de recomeçar.

Depois de anos dedicados à carreira nas áreas da publicidade e marketing, sem pausas e sem férias, a jovem de Jaraguá do Sul decidiu virar a página e viver algo novo.

“Quando fiz 23, percebi que queria mais da vida do que só trabalho. Queria viajar, conhecer o mundo. O programa de au pair foi o caminho mais acessível para isso”, conta.

Agora, aos 25 anos, Amanda vive em Wauwatosa, uma pequena cidade no estado de Wisconsin, e cuida de uma menina na casa de uma mãe solteira. A rotina mudou completamente – e ela também. A cidade, com pouco mais de 48 mil habitantes, fica nos arredores de Milwaukee e é conhecida por sua tranquilidade, ruas arborizadas e um senso de comunidade.

Placa de boas-vindas à cidade de Milwaukee, Wisconsin, nos Estados Unidos
Placa de boas-vindas à cidade de Milwaukee, em Wisconsin, Estados Unidos. | Foto: Arquivo pessoal/Amanda Neris

Esta matéria faz parte da série especial “Jaraguaenses mundo afora”, que compartilha histórias reais de quem partiu em busca de novos caminhos, recomeços e sentidos. Mas que, mesmo longe, carrega a nossa região como parte essencial de quem é.

A decisão que mudou tudo

Amanda conta que vivia uma rotina agitada no marketing corporativo. “Trabalhava desde o primeiro semestre da faculdade. Nunca tirei férias, nunca parei. Era só reunião, obrigações e relatórios”, relembra. O desejo por uma experiência internacional e o cansaço da rotina a levaram buscar algo diferente.

O programa de au pair, que permite morar com uma família americana em troca de cuidar das crianças, surgiu como a opção mais viável.

Ela pesquisou bastante sobre o programa, conversou com outras meninas que já tinham participado e entendeu que, além de ser financeiramente mais acessível, oferecia a chance de viver a cultura norte-americana na prática, convivendo com uma família local e aprimorando o idioma em tempo integral.

Amanda Neris, jaraguaense vivendo como au pair nos EUA, em viagem pela Califórnia
Amanda Neris, de Jaraguá do Sul, durante passeio turístico pela Califórnia, visitando o Pier 39 e a Golden Gate Bridge. | Foto: Arquivo pessoal

Mesmo sem nunca ter estudado inglês anteriormente, ela mergulhou de cabeça: “Me demiti, voltei para Jaraguá e estudei intensivamente por um ano. Nunca tinha saído do Brasil, nunca tinha nem passado pela imigração. Mas fui”.

O processo completo de aplicação para uma oportunidade de trabalho como au pair durou pouco mais de um ano; envolveu provas, entrevistas, documentação e muita dedicação.

Um novo mundo, repleto de aprendizados

O impacto cultural veio logo nos primeiros dias. “Usei o tradutor por duas semanas de tão nervosa que estava”, conta, rindo. Além disso, o almoço virou sanduíche, e o ‘Where are you from?’ virou parte da rotina, enquanto fazia novas conexões.

Amanda logo percebeu que muitas coisas pequenas, como a maneira de cumprimentar, a formalidade no trato com as pessoas e até mesmo a forma como os estadunidenses lidam com tempo e pontualidade, eram bem diferentes.

Quanto à comunicação em inglês, ela conta ter progredido muito.

“Eu entendo e me faço entender, porque é mais do que falar tudo perfeitamente, sabe? Ainda é um pouco difícil falar no passado, então às vezes coloco um ‘before’ no meio da frase para entenderem”, brinca.

Apesar do nervosismo, ela encontrou acolhimento. “Tenho uma relação muito boa com a família que eu vivo e trabalho. Normalmente as minhas tarefas me ocupam uma hora de manhã e depois volto a trabalhar à tarde.”

A rotina inclui tarefas como preparar o café da manhã, acompanhar a menina em atividades e, ocasionalmente, colocá-la para dormir. “O mais especial é criar uma conexão real com ela, ver como confia em mim, como me inclui na vida dela”, compartilha Amanda, que também aproveita os momentos livres para explorar a cidade, estudar ou apenas descansar.

Jaraguaense Amanda Neris explora pontos turísticos dos EUA durante sua experiência como au pair
Amanda Neris, de Jaraguá do Sul, durante passeio pelos Estados Unidos enquanto vive sua experiência como au pair. | Foto: Arquivo pessoal

Wauwatosa, a cidade onde vive, tem uma curiosa semelhança com Jaraguá do Sul. “É uma cidade com forte influência alemã. A arquitetura me lembra um pouco Jaraguá, e isso me dá um quentinho no coração.”

Ela explica que sente certa familiaridade ao andar pelas ruas, mesmo estando a mais de 8 mil quilômetros de casa. “Às vezes, até esqueço que estou em outro país. Mas aí passa um esquilo na frente ou começa a nevar em abril e a ficha cai de novo”, conta.

Amanda Neris, jaraguaense vivendo como au pair nos EUA, durante dia de neve em Wisconsin
Amanda Neris, de Jaraguá do Sul, registra um dia típico de inverno com neve nos Estados Unidos. | Foto: Arquivo pessoal

Então, para quem sempre viveu a tropicalidade do Brasil, ela considera o inverno um dos principais desafios da adaptação no novo país. “Manter a vida social com -20ºC marcando no termômetro não é fácil”, brinca.

Identidade e orgulho

Viver fora também trouxe reflexões profundas à jaraguaense. “Nunca tinha pensado que aqui eu seria vista como uma mulher latina, não branca. No Brasil, isso nunca foi uma questão para mim. Aqui, essa diferenciação é muito clara. Isso me fez ter ainda mais orgulho de quem sou e de onde vim.”

Amanda explica que, em algumas situações, percebeu olhares ou comentários que a colocavam automaticamente como “diferente”. “É sutil, mas existe. Foi um aprendizado sobre o lugar que ocupo no mundo e o quanto ainda precisamos conversar sobre diversidade.”

Além disso, a falta que sente dos pais, amigos e da comida brasileira é constante. “Adoro gastar uma pequena fortuna em restaurante brasileiro só para sentir o ‘gosto de casa’”, admite. E mesmo curtindo a vida nos EUA, Amanda acredita que nunca se sentirá em casa e deseja, um dia, voltar para Jaraguá.

Enquanto esse dia não chega, para matar a saudade, ela mantém pequenos rituais: escuta músicas brasileiras, segue séries e criadores de conteúdo do Brasil e cozinha arroz e feijão sempre que pode. “Essas pequenas coisas me mantêm conectada com quem eu sou.

Planos, sonhos e novas possibilidades

A experiência como au pair não só permitiu uma pausa na rotina intensa, mas abriu novas perspectivas. “O inglês vai me ajudar muito profissionalmente. Mas, mais do que isso, essa experiência me fez ver o quanto sou capaz de me virar sozinha. Viajar sozinha, conhecer lugares, fazer amizades. Me tornei mais independente.”

Inclusive, graças a essa vivência fora, Amanda também pôde realizar outro sonho: visitar a Europa. “A experiência de morar fora abre portas que antes pareciam impossíveis. Nunca imaginei que um dia estaria andando por outros lugares do mundo, e consegui fazer isso por conta dessa oportunidade”.

Com relação ao futuro, Amanda ainda não tem todas as respostas, mas sabe que voltou a sonhar. “A vida aqui me mostra possibilidades que antes pareciam distantes. E isso, por si só, já vale a pena.”

Mesmo com os desafios, ela acredita que tudo o que viveu e ainda tem pra viver contribui para seu crescimento pessoal.

Vale viver a experiência de au pair?

Para quem pensa em seguir o mesmo caminho, Amanda dá um conselho direto: “Se não for muito paciente, talvez outro intercâmbio seja melhor. Mas venham! É uma oportunidade única. E se não der certo, sempre dá para voltar.”

Ela reforça que o mais importante é ter clareza do motivo pelo qual se está indo. “Venha sabendo o porquê. É difícil, mas vale muito. E cada história é diferente. A minha me transformou.”

O que fica é a coragem de ter saído da zona de conforto, e a certeza de que recomeços também são formas de se reencontrar. “Hoje, tenho mais orgulho de ser brasileira. Carrego Jaraguá comigo, mesmo do outro lado do mundo.”

Leia outras matérias da série “Jaraguaenses mundo afora”:

Como isso impacta a sua vida?

Contar histórias como a da Amanda ajuda a entender que recomeçar fora do Brasil é, antes de tudo, uma experiência transformadora. Não se trata só de morar em outro país, é sobre lidar com medos, descobrir novas versões de si e manter vivas as raízes que moldaram quem você é.

Conhece alguma história parecida, de gente que vive longe, mas leva Jaraguá do Sul no coração? Escreva para: redacao@nascecom.com.br.

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Gabriela Bubniak

Jaraguaense de alma inquieta e jornalista apaixonada por contar boas histórias. Tenho fascínio por livros, música e viagens, mas o que me move é viver a energia de um bom futsal na Arena e explorar o que há de melhor na nossa terrinha.

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