Cotidiano | 03/09/2025 | Atualizado em: 03/09/25 ás 15:18

A história do papagaio que foi preso em Jaraguá do Sul por falar alemão

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A história do papagaio que foi preso em Jaraguá do Sul por falar alemão

Foto: IA/JDV

Durante o Estado Novo (1937-1945), com a ascensão do nacionalismo e, principalmente, com a entrada no Brasil na 2ª Guerra Mundial, foram impostas medidas contra “estrangeirismos” no país.

Uma delas afetou diretamente Jaraguá do Sul e região: a proibição de falar alemão e italiano. Isso transformou o convívio familiar e social em algo, por vezes, perigoso.

Mas em meio a toda essa tensão, também houve espaço para histórias curiosas. Uma delas diz respeito a uma vítima improvável dessa perseguição: um simples papagaio.

O papagaio que falava alemão

Em Ribeirão Grande da Luz (Sohnstiefe), um professor de uma pequena escola da localidade enfrentava dificuldades com sua ave de estimação, um papagaio que dominava expressões no idioma alemão. Além de falante, o animal era bastante travesso.

Costumava percorrer a sala de aula e, com o bico, remover as rolhas dos tinteiros deixados nas carteiras pelos alunos, provocando confusão no ambiente escolar. Segundo relatos, tratava-se de um verdadeiro “Pedro Malasartes”, personagem conhecido do folclore popular por suas artimanhas e espertezas.

papagaio preso
Foto: IA/JDV

Tufie Mahfud

Tufie Mahfud, comerciante libanês e figura de destaque em Jaraguá do Sul, conhecia bem o interior do município. Em uma de suas frequentes visitas à região do Rio da Luz e Duwe, acabou conversando com o professor e tomou conhecimento das peripécias do papagaio.

No fim da conversa, recebeu a ave de presente. Com a convivência cotidiana no bar do qual Tufie era proprietário, o papagaio logo se tornou conhecido entre os frequentadores por sua capacidade de reproduzir frases em alemão, o que causava espanto e, claro, preocupação, diante das proibições em vigor naquele contexto político.

Troca com José Albus

Foi nesse cenário que José Albus, um conhecido morador local, interessou-se pelo animal e combinou com Tufie uma troca: entregaria dois jacus em troca do papagaio. Assim que levou a ave para casa, passou a conviver com suas falas no idioma restrito.

Até que, em determinado dia, o soldado conhecido como João “Polícia” – que, como muitos praças do período, era referido apenas por apelido – passou em frente à residência de José Albus, ouviu o papagaio falar alemão e decidiu apreendê-lo, levando-o para a Cadeia Pública localizada na Rua Procópio Gomes, nas proximidades do lado protestante do Cemitério Municipal.

Indignado com a apreensão, José Albus procurou Tufie, e este, por sua vez, levou o caso ao tenente Leônidas Cabral Herbster, então prefeito municipal e frequentador de seu bar. Após ouvir os relatos, o prefeito reconheceu que houve um excesso de rigor e prometeu resolver a situação.

Devolução do papagaio

No dia seguinte, o soldado João “Polícia” compareceu à casa de José Albus, devolveu o papagaio e apresentou suas desculpas.

O episódio, embora ocorrido em um período marcado por normas severas, terminou com um desfecho conciliador – e entrou para o anedotário local como exemplo das situações curiosas vividas na época.

Sobre os personagens

Os três principais nomes citados, Tufie Mahfud, Leônidas Cabral Herbster e José Albus estão todos eternizados na história de Jaraguá do Sul com homenagens públicas a suas contribuições:

  • Leônidas Cabral Herbester já foi nome de praça e hoje é lembrado na construção da primeira sede própria da prefeitura de Jaraguá do Sul, além de dar nome ao Batalhão da Polícia Militar de Jaraguá do Sul.
  • Tufie Mahfud é nome de rua no Centro de Jaraguá do Sul, entre as ruas Epitácio Pessoa e Getúlio Vargas, onde está localizado o complexo Instituto Federal de Santa Catarina, Gerência Regional da Educação e Ginásio Arthur Müller.
  • José Albus é nome de rua no Centro de Jaraguá do Sul, via que serve de acesso e retorno da Praça Ângelo Piazera.
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Marcio Martins

Profissional da comunicação desde 1992, com experiência nos principais meios de Santa Catarina e no poder público. Observador, contador e protagonista de histórias, conheço Jaraguá do Sul como a palma da mão

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