Cotidiano | 06/07/2025 | Atualizado em: 06/07/25 ás 12:06

Você sabia que o português do Brasil é quase outra língua?

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Você sabia que o português do Brasil é quase outra língua?

Foto: Imagem ilustrativa gerada por IA – cenário simbólico do Brasil

O português falado no Brasil carrega o mesmo nome da língua de Portugal, mas a verdade é que ele passou por tantas transformações ao longo dos séculos que já pode ser considerado uma língua única. A origem dessa diferença está numa viagem histórica que começa no latim vulgar e passa por uma mistura intensa de culturas, povos e pronúncias. Mais do que uma curiosidade lingüística, essa história é um espelho da formação do povo brasileiro.

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A origem latina e os desvios do caminho

Tudo começa com o latim, mas não o latim “clássico” dos livros antigos. O português nasceu do latim vulgar, falado pelas classes populares e soldados do Império Romano. Ao chegar na Península Ibérica, essa língua sofreu influências dos povos germânicos, principalmente os suevos, e também da presença árabe e berbere durante séculos.

O latim vulgar não era uniforme. Ao contrário do que muitos imaginam, havia grande variação regional, e isso influenciou o surgimento das chamadas línguas românicas: francês, italiano, espanhol, catalão, romeno e, claro, o português. No caso da nossa língua, a contribuição germânica — com a eliminação de consoantes entre vogais, por exemplo — e os vocábulos oriundos do árabe deixaram marcas fonológicas e lexicais profundas.

Do Velho Mundo ao Brasil

Quando o português atravessou o oceano Atlântico durante a colonização portuguesa, ele começou um novo capítulo. No território que viria a se tornar o Brasil, a língua se encontrou com dezenas de idiomas originários e, posteriormente, com as línguas faladas pelos africanos escravizados. Esse caldeirão lingüístico moldou a identidade fonológica do português brasileiro.

Essa trajetória está bem retratada no episódio do podcast DW Revista, intitulado “A incrível história do português brasileiro”, que traz uma entrevista com o linguista e tradutor Caetano Galindo — referência nacional no tema. A conversa aprofunda o papel das influências africanas, indígenas e populares na construção do idioma que falamos hoje.

Não foi apenas um processo de incorporação de palavras: foi uma transformação completa de ritmo, musicalidade e construção sintática. Termos como “moleque” (do banto) e estruturas prosódicas marcantes, como o “s” chiado em certas regiões, revelam essa influência. A história oral de muitos povos se somou ao português trazido de fora, alterando profundamente seu formato original.

Um país imenso, uma só língua

Apesar da diversidade cultural e territorial do Brasil, a língua portuguesa se consolidou como um dos principais fatores de unidade nacional. Estudos mostram que o Brasil é um dos raros países de dimensão continental onde quase toda a população fala a mesma língua.

Esse monolinguismo relativo é um fenômeno peculiar. Em outros países grandes, como Índia ou China, a pluralidade lingüística é tão grande que a comunicação entre regiões depende de línguas francas. No Brasil, uma criança chamada Luzia pode nascer no interior de Santa Catarina, crescer em Belém, estudar no Paraná e trabalhar no Rio de Janeiro sem nunca precisar mudar de língua.

A existência de variações regionais, como o uso do “tu” ou do “r” retroflexo, não compromete a inteligibilidade nacional. Pelo contrário, enriquece a experiência da língua falada e torna o português brasileiro um verdadeiro mosaico.

Português europeu x português brasileiro: irmãos distantes

Enquanto o português se transformava no Brasil, a língua também evoluía em Portugal. Mas em direções diferentes. A pronúncia das vogais átonas, a entonação, o ritmo das frases e o próprio vocabulário se afastaram bastante. Em alguns casos, textos produzidos no Brasil precisam ser adaptados para o público europeu e vice-versa.

Essa diferença é tão marcante que alguns linguistas argumentam que o português brasileiro já deveria ser tratado como uma língua autônoma. Por outro lado, há quem defenda que manter o nome e a ligação à lusofonia é importante para fins culturais e diplomáticos.

E a polêmicas sobre chamar de “brasileiro”?

De tempos em tempos, ressurge a ideia de mudar o nome da língua falada no Brasil para “brasileiro”. A discussão vai além da linguística e entra na esfera simbólica: dar nome próprio à língua é uma forma de reconhecer a autonomia cultural de um povo.

Mas na prática, pouco mudaria. Assim como os americanos chamam sua língua de inglês, mesmo com diferenças marcantes em relação ao britânico, os brasileiros seguem usando a denominação portuguesa. A diferença estrutural existe, mas o sentimento de pertencimento é coletivo.

Esse debate, aliás, é um dos fios condutores do livro Latim em Pó, de Caetano Galindo, publicado pela Companhia das Letras. A obra faz uma verdadeira viagem histórica pelas raízes do português brasileiro — das margens do latim popular até o português moderno falado nos quatro cantos do Brasil.

O futuro da nossa língua

Nos últimos anos, observa-se uma tendência à homogeneização fonética em algumas regiões, principalmente nas capitais e centros urbanos. Isso ocorre devido à influência dos meios de comunicação, da internet e da mobilidade populacional. Sotaques estão se aproximando, e marcas regionais antes muito fortes estão se suavizando.

Por outro lado, o contato com diferentes culturas e o fortalecimento das identidades regionais também podem levar a um movimento inverso: o de valorização das diferenças locais. A língua é um organismo vivo, e seu futuro está diretamente ligado à forma como a sociedade se organiza, comunica e se reconhece.

Como isso impacta sua vida?

Entender a história da língua que falamos ajuda a valorizar nossas origens e a riqueza da diversidade cultural brasileira. Saber que o português do Brasil tem traços africanos, indígenas, europeus e árabes reforça o quanto somos um povo plural. E mais: mostra que nossa maneira de falar não é errada, é apenas diferente — e cheia de história. Essa consciência linguística também contribui para combater o preconceito lingüístico, ainda presente em diversas situações sociais, educacionais e profissionais.

Max Pires

Já criei blog, portal, startup… e agora voltei pro que mais gosto: contar histórias que fazem sentido pra quem vive aqui. Entre um café e um latido dos meus cachorros, tô sempre de olho no que importa pra nossa cidade.

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