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Coluna: Os primeiros habitantes

Uma nação formada por inúmeras nações que buscam uma identidade única. Assim é o Brasil, que nas últimas semanas novamente direciona os olhares aos povos indígenas

12/09/2021

Uma nação formada por inúmeras nações, que se entrelaçam e buscam uma identidade única em um país continental, de etnias e interesses diversos. Assim é o Brasil, que nas últimas semanas, entre tantos temas polêmicos, passou novamente a direcionar os olhares para os povos indígenas.

Irmanados, seis mil indígenas ocuparam a Esplanada dos Ministérios para reivindicar terras, uma discussão que iniciou em Santa Catarina, dividindo opiniões de juristas e da sociedade brasileira. Vale lembrar que o marco temporal é referente às reservas indígenas e pelo projeto, que tramita no Superior Tribunal Federal (STF), só podem ser consideradas legítimas se tiverem sido ocupadas antes da Constituição de 1988. Sabemos que historicamente, esse é um embate que se iniciou nos tempos do Descobrimento do Brasil e parece estar longe do fim.

Recentemente empreendi uma jornada de resgates familiares no Rio Grande do Sul. Foi então que passei por São Luiz Gonzaga, um dos municípios gaúchos remanescentes dos chamados “Sete Povos das Missões”, uma epopeia brasileira, iniciativa dos jesuítas que prosperou entre os séculos 17 e 18, destruídas pela ambição e ganância dos colonizadores. Hoje restaram ruínas impregnadas de história, como legados arquitetônicos, culturais, com esculturas sacras e instrumentos musicais que até hoje comprovam a capacidade dos guaranis daqueles tempos. Impossível pisar naquele chão e não se emocionar.

E como a temática envolvendo os descendentes dos primeiros habitantes do Brasil tomou conta das manchetes nos últimos dias, resgato aqui o conto que escrevi inspirado na alma indígena:

“Mistérios da floresta

A noite escura tinha tomado conta da floresta, que se mantinha misteriosa, majestosa. De tão fechada, a mata dava pouco espaço para a luminosidade das estrelas, que piscavam como nunca. Somente a lua cheia parecia driblar, aqui e ali, a copa das árvores com seus fachos de luz. Enquanto o vento de outono soprava e agitava as folas, uma coruja se mantinha imponente, empoleirada no alto de uma embaúca, com seus olhos grandes e atentos. As demais aves se dividiam entre buscar alimentos e proteger os filhotes dos predadores.

Vagarosamente, o tatu saiu da toca, desconfiado: qualquer ruído ou movimento estranho poderia revelar a presença de um coati, ou cachorro-do-mato. A jaguatirica, ardilosa, se preparava para a caça, assim como as cobras peçonhentas, prontas para dar o bote. Os sapos coaxavam na lagoa. Todos os animais silvestres seguiam na selvagem luta pela sobrevivência.

Inebriado com os encantos da Mata Atlântica, o índio caingangue parou por um momento sua caminhada pela trilha que o levaria de volta à aldeia, e por breves segundos respirou fundo aquele ar puro, inalando o cheiro da relva fresca. Pouco depois, viu o saci pulando num pé só com o cachimbo, e lá adiante vislumbrou o curupira com seus pés virados para trás. Aquela é a sua terra, o lugar onde seu povo tira o seu sustento e é feliz! Para defendê-la, ele seria capaz de sacrificar a própria vida, se fosse preciso.

De repente, o índio ouviu ao longe: ‘Ei, você! Acorda!’. Era Maria interessada em comprar um de seus belos cestos de vime. Assustado, ele arregala os olhos e cai na real: foi apenas um sonho, uma volta ao tempo em que seu povo era o dono da terra e a mata era preservada!”.

Que nunca esqueçamos do respeito que os povos merecem, de todos nós!

Por

Sônia Pillon é jornalista e escritora, formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Integra a AJEB Santa Catarina. Fundadora da ALBSC Jaraguá do Sul.

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