Cultura

A Jornada da Igreja Luterana e seu impacto no Brasil – 200 Anos de Presença

A jornada da Igreja Luterana ao longo dos últimos 200 anos no Brasil, desde sua chegada em 1824 até os dias de hoje

13/06/2024

Neste texto, exploraremos a fascinante jornada da Igreja Luterana ao longo dos últimos 200 anos no Brasil, desde sua chegada em 1824 até os dias de hoje. Examinaremos seu impacto profundo na educação, cultura e sociedade brasileira, destacando suas contribuições para a transformação social e o desenvolvimento da nação. Ao mergulhar nesta narrativa, descobriremos como a fé, o associativismo e o ecumenismo moldaram a trajetória da Igreja Luterana e deixaram um legado duradouro no tecido social do Brasil. Venha conosco nesta viagem pelo passado e presente da Igreja Luterana e seu papel vital na história brasileira.

 

 

A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil celebra com solenidade 200 anos de sua influência no solo brasileiro, marcados pelo pioneirismo e pela dedicação ao progresso social. O marco histórico de sua chegada, em 13 de janeiro de 1824, não apenas assinala o início de sua jornada aqui, mas também representa um momento emblemático na história religiosa do país.

 

 

jorn

 

Desde seus primórdios, o movimento protestante enfatizou a importância da educação e da cultura como instrumentos fundamentais para a transformação da sociedade. O imperativo de aprender, ler, escrever e cantar foi disseminado como meio de compreender a Palavra Sagrada e entoar os hinos do Hinário Luterano, consolidando assim uma comunidade de fé e conhecimento.

 

 

É relevante destacar que a presença luterana remonta a períodos anteriores a 1824, como evidenciado pelo exemplo de Heliodor Hesse, residente em São Vicente, São Paulo. Hesse, filho do humanista Helius Eobano Hesse, um íntimo de Martim Lutero, estabeleceu-se no Brasil por volta de 1554. Sua ligação com a história brasileira é profunda, tendo participado ativamente dos conflitos contra os franceses no Rio de Janeiro, ao lado de Estácio de Sá, o fundador da segunda São Sebastião do Rio de Janeiro.

 

 

Em Santa Catarina, a influência da Igreja Luterana se torna particularmente notável com a fundação da Colônia Dr. Blumenau, em 1850, e da Colônia Dona Francisca, em 1851 (atualmente Blumenau e Joinville, respectivamente). A chegada dos imigrantes alemães e pomeranos nessas regiões marcou um novo capítulo na história religiosa e cultural do país. Através da instalação de escolas (Schule), igrejas (Kirch), hospital (krankenhaus) e cemitérios (Friedhof), o legado do protestantismo luterano foi firmemente estabelecido, contribuindo significativamente para o desenvolvimento e a diversidade cultural do Brasil.

 

 

Ao longo da segunda metade do século XIX, diversos outros territórios se tornaram pontos de assentamento para imigrantes e colonizadores, ampliando ainda mais a influência e presença da Igreja Luterana no Brasil. Massaranduba, em 1870, e a Colônia Jaraguá (atualmente Jaraguá do Sul), em 1876, são exemplos marcantes desse movimento migratório.

 

 

Outras comunidades, como Brüderthal (hoje vinculada ao município de Guaramirim), estabelecida em 1886, e Schröderstrasse (atual Schroeder), estabelecida em 1895, desempenharam papéis significativos na expansão da fé luterana e na formação de novos núcleos religiosos e culturais.
A imigração alemã também deixou sua marca em locais como Hansa Humbold (hoje conhecida como Corupá), estabelecida em 1897, contribuindo para a diversidade e o enriquecimento cultural do país.

 

 

É importante notar que, embora Barra Velha (incluso o município de São João Itaperiú) tenha sido o ponto de início do assentamento de imigrantes portugueses e lusos no século XIX, a data exata desse evento não está disponível, o que destaca a complexidade e a riqueza da história imigratória do Brasil.

 

 

Nos territórios de Jaraguá do Sul, Guaramirim, Corupá e Massaranduba, a sinergia entre os colonizadores e o trabalho coletivo foi fundamental para o desenvolvimento dessas comunidades. Um aspecto notável dessa colaboração foi a participação ativa dos luteranos na instalação de equipamentos hospitalares, muitas vezes em parceria com a denominação Católica. Esse esforço conjunto resultou na criação de uma complexa rede hospitalar, caracterizada pela contratação de médicos estrangeiros ou provenientes dos grandes centros urbanos.

 

 

Essa colaboração transcendeu diferenças religiosas e étnicas, evidenciando o compromisso mútuo com o bem-estar e o progresso das comunidades locais. O estabelecimento de hospitais e a disponibilidade de cuidados médicos contribuíram significativamente para a qualidade de vida e o desenvolvimento social dessas regiões.

 

 

Ao longo desses 200 anos de presença luterana no Brasil, as comunidades étnicas e germânicas desempenharam um papel fundamental na promoção da educação, especialmente em áreas onde o sistema educacional brasileiro ainda estava em desenvolvimento. Em um período em que o Regime Republicano e o Sistema de Ensino Brasileiro eram frágeis e concentrados nos centros urbanos, as comunidades do interior de Santa Catarina, muitas vezes sem unidades escolares governamentais, foram influenciadas pelos pastores luteranos a estabelecer escolas étnicas com currículos ministrados na Língua Estrangeira Alemã.

 

 

Nesta trajetória de presença luterana ao longo de 200 anos de história no Brasil, as comunidades étnicas e germânicas iniciaram a educação elementar com a introdução de material didático na Língua Estrangeira Alemã. Este foi um período em que o Regime Republicano e o Sistema de Ensino Brasileiro eram frágeis e concentrados nos centros urbanos, com o funcionamento de grupos e escolas reunidas.

 

 

No interior do estado de Santa Catarina, onde não havia presença de unidades escolares do governo, as comunidades se organizavam sob influência dos pastores luteranos para estabelecer escolas étnicas com currículos ministrados na Língua Estrangeira Alemã, por meio do associativismo que originava as sociedades escolares, conhecidas na época pela expressão “schulgemeinde”.

 

 

Dentre estas, destacam-se as seguintes fundações em Jaraguá do Sul: Rio da Luz I (atual EMEB Professora Gertrudes Milbratz), em 1895; Rio Cerro II (atual EEB Professor João Romário Moreira), em 1899; Deutsche Schule (atual Colégio Evangélico Jaraguá), em 1907; Rio da Luz Vitória (atual EMEB Professor Arnoldo Schulz – desativada), em 1904; Jaraguá 99 (atual EMB Professor Antônio Stanislau Ayroso), em 1907; Rio Cerro I (atual EMEB Ricieri Marcatto), em 1908; a escola da comunidade de Itapocuzinho (atual EMEB Machado de Assis), iniciada em 1914; Rio da Luz II (atual EMEB Professor Henrique Heise), iniciada em 1915; Sohnstiefe (atual EMEB Professor Orestes Guimarães – desativada), que organizou sua escola da comunidade em 1916; e Francisco de Paulo (atual EMEB Francisco de Paulo), iniciada em 1923, também como escola da comunidade.

 

 

Além disso, podemos adicionar à lista de contribuições das escolas estrangeiras alemãs a unidade escolar próxima ao Comércio Jorge Czerniewicz, transferida para o Morro do Stein durante a primeira década do século XX. Essa transferência evidencia o dinamismo e a adaptabilidade dessas instituições educacionais em atender às necessidades em constante evolução das comunidades locais.

 

 

Além disso, em Schröderstrasse (atual Schroeder), as sociedades escolares de influência luterana também desempenharam um papel fundamental no desenvolvimento educacional da região. Entre elas, destacam-se a Schröderstrasse II (atual EEB Miguel Couto), estabelecida em 1906; a Schröderstrasse I (atual EEB Professora Elisa Claudio de Aguiar), fundada em 1907; a Deutsch Schule Schroeder III (atual EMEF Frida Hein Krause), inaugurada em 1917; a Deutsch Schule Braço do Sul (atual EEF Luiz Delfino), organizada pelo Sínodo Luterano no Brasil, em 1928, transferida para o Sínodo Luterano do Brasil em 1931 e nacionalizada em 1939; a Deutsch Schule de Duas Mamas de Rancho Bom (atual EMEF Castro Alves), estabelecida em 1934; e a Escola Particular Barão do Rio Branco (Sínodo Luterano do Brasil), fundada em 1953.

 

 

Essas instituições educacionais, muitas vezes iniciativas da comunidade e apoiadas pelo Sínodo Luterano, desempenharam um papel vital na disseminação da educação na região, contribuindo para o crescimento e o desenvolvimento das comunidades locais.

 

 

Além do papel das escolas étnicas alemãs na região, é importante destacar o pioneirismo do pastor Ferdinand Schlünzen na criação de três delas: a EEB Miguel Couto, a EEB Professora Elisa Claudio de Aguiar e o Colégio Evangélico Jaraguá, localizadas em Jaraguá do Sul e Schroeder, respectivamente. Schlünzen não apenas liderou a fundação dessas instituições, mas também desempenhou um papel fundamental como professor, especialmente na introdução da Educação Para Jovens e Adultos (EJA). No início do século XX, ele implementou a alfabetização na Língua Estrangeira Alemã para um grupo de cidadãos, entre os quais se destacava Adão Maba, conhecido como o construtor das casas de alvenaria (Massivahaus).

 

A jornada da Igreja Luterana ao longo dos últimos 200 anos no Brasil, desde sua chegada em 1824 até os dias de hoje

 

 

Essa iniciativa de Schlünzen não apenas promoveu a educação na região, mas também contribuiu para a preservação e promoção da língua e cultura alemãs entre os imigrantes e suas comunidades.

 

 

No território do Itapocu, correspondente ao atual município de Guaramirim, duas importantes iniciativas da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil marcaram o século XIX. Em Brüderthal (Vale dos Irmãos), em 1896, iniciaram-se junto à edificação do Templo Luterano as atividades da escola elementar sob a regência do pastor e professor Wilhelm Gottfred Lange.

 

 

Já no território de Itapocuzinho (atual bairro Imigrantes) – a partir de 1919, distrito de Bananal – (atual Guaramirim), em 1891, iniciaram-se as atividades da Sociedade Escolar organizada pelos imigrantes alemães luteranos. Posteriormente, a escola foi desativada, pois no centro do distrito de Bananal foi instalada a Escola Estadual Reunida Bananal, sob a regência do professor Curt Reimer.

 

 

Em Hansa Humbold, atual Corupá, a Comunidade Evangélica Luterana do Brasil, movida pela necessidade de suprir a ausência de ensino nacional e público gratuito, estabeleceu escolas comunitárias (schulgemeinde) sob a forma de associações, denominadas Sociedade Escolares. Em 1904, foram fundadas as unidades escolares Estrada Isabel (Isabelstrasse), Estrada Paulo (Paulstrasse), Estrada Bomplant e Humbold (Bomplant und Humboldstrasse) e na cidade (Staplatz) – Stad platz Humbold. (SANTOS, Ademir, 2013).

 

 

Em Massaranduba, ao longo do século XIX, território então pertencente ao município de Blumenau, a presença da imigração e colonização alemã e pomerana levou à criação da Evangelische Schulgemeide (Comunidade Escolar Evangélica) Massaranduba Central-58 em 1895, conhecida também como Massaranduba 58 (BECH, Venilde – 2021).

 

 

Além disso, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, por meio da prática do associativismo e/ou do ecumenismo, promoveu diálogos interconfessionais para a organização e/ou manutenção de hospitais e cemitérios. Exemplos dessas iniciativas incluem a organização dos hospitais como, o Luterano estabelecido pela organização Frauenverein Humboldt, em Corupá; São José, em Jaraguá do Sul; e Santo Antônio (1968), em Guaramirim. Finalmente, o Hospital e Maternidade Jaraguá (antigo Hospital São José) foi adquirido na década de 60, após a construção do novo Hospital São José, inaugurado em 19 de abril de 1959.

 

 

Quanto ao conjunto do patrimônio funerário distribuído nos municípios atuais de Jaraguá do Sul, Corupá, Massaranduba, Schroeder e Guaramirim, foram organizados na mesma linha de ação e governança. Dessa forma, há inúmeros cemitérios que atendem às comunidades tradicionais, administrados comunitariamente, representando a unidade das duas denominações, Católica e Luterana. Inclusive, a partir dos anos 30, o Sínodo Luterano do Brasil, ingressou nesta jornada de humanismo e civilização, para compartilhar o uso dos cemitérios em muitas das comunidades tradicionais já existentes no Vale do Itapocu.

 

 

Ao longo deste texto, testemunhamos a rica história da Igreja Luterana e seu profundo impacto no Brasil. Desde seus primeiros passos em terras brasileiras até os dias atuais, a Igreja Luterana desempenhou um papel fundamental na educação, na cultura e na transformação social do país. Seu compromisso com o associativismo, o ecumenismo e o serviço à comunidade deixaram um legado duradouro que continua a moldar a vida das pessoas e a sociedade brasileira como um todo.

 

 

Ao refletir sobre essa jornada, somos lembrados do poder da fé, da cooperação e do amor ao próximo na construção de um mundo mais justo e solidário. Que possamos continuar a honrar e valorizar essa herança, buscando sempre seguir os princípios de justiça, compaixão e serviço que a Igreja Luterana nos legou.

 

 

(Ademir Pfiffer – Historiador e Youtuber, para o JDV)

 

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Historiador e criador de conteúdo digital para as plataformas do Kwai, Tik Tok e You Tube. Dedicado à pesquisas sobre memória e patrimônio histórico-cultural em comunidades tradicionais

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