4 relíquias que você só encontra no Museu Emílio da Silva em Jaraguá; veja fotos!
Foto: Bruna Friedel/JDV
Ao lado da Praça Ângelo Piazera, no coração de Jaraguá do Sul, o Museu Histórico Emílio da Silva (MHES) chama atenção pela arquitetura imponente dos anos 1940. O prédio, que por muitos anos abrigou a prefeitura da cidade, hoje guarda relíquias que contam a trajetória de uma Jaraguá construída com muito empenho por nativos e imigrantes.
Por trás das vitrines e prateleiras desse espaço histórico, objetos raros e personagens emblemáticos revelam curiosidades que nem todos os moradores conhecem, mas que ajudam a entender melhor a identidade regional.
E o JDV foi até lá para ver essas preciosidades de perto. Entre livros de séculos passados, quadros cheios de simbolismo e peças inusitadas, trouxemos as histórias por trás de cada uma – todas elas com um pedacinho da alma jaraguaense.
Os nomes que carregam a história de Jaraguá
Mas antes de conhecer as peças que se destacam no rico acervo do espaço, é importante entender quem foram os personagens que ajudaram a construir esse patrimônio.
Embora tenha sido oficialmente criado por lei em 1976, o museu só abriu suas portas ao público em 2001. Isso porque, durante anos, a falta de uma sede física e estrutura administrativa impediu o funcionamento pleno da instituição. O acervo, reunido durante as comemorações do centenário de Jaraguá do Sul, permaneceu guardado até a instalação definitiva no prédio da antiga Prefeitura, onde o museu funciona até hoje.
O nome homenageia Emílio da Silva, que era, além de pesquisador e memorialista, topógrafo, agrimensor, cartógrafo e músico talentoso. Ele teve papel crucial na formação do acervo original e na mobilização para criação da instituição. Seu legado vai além dos objetos expostos: representa a dedicação de quem registrou com minúcia a história local.
Conteúdos em alta
Além de Emílio, Ivana Cavalcanti, Chefe dos Museus Municipais, destaca mais quatro nomes que fazem parte da história jaraguaense: Eggon da Silva – filho de Emílio -, na indústria e economia nacional (um dos fundadores da WEG); Mestre Manequinha, na Cultura do folclore e do carnaval; Domingos Rosa, no desenvolvimento dos engenhos iniciais de Jaraguá e região; e a família Américo e Gomes, na indústria moveleira jaraguaense.

Cada um deles compõe o MHES de uma maneira diferente, mas, em seu conjunto, contam a história de uma cidade diversa e que se destaca pelo trabalho.
Além das relíquias históricas, o museu também guarda objetos doados pela comunidade, como telefones, fotografias, cadernos e brinquedos.
Mas, segundo Gustavo Voltolini, museólogo do MHES, nem todos os doados entram para a exposição. O motivo disso acontecer está no objetivo do museu: contar especificamente a história de Jaraguá do Sul. Por isso, é preciso analisar se os objetos realmente fazem parte dessa trajetória, para então serem levados à exposição.
Hoje, o legado e as heranças deixadas por esses personagens se materializam nas peças e objetos preservados no Museu Histórico Emílio da Silva.
Confira 4 objetos curiosos e inusitados do museu
Dentre as centenas peças que estão expostas no museu, o JDV separou alguns itens que ajudam a enxergar a história da cidade sob diferentes perspectivas.
1. Livro mais antigo do museu
Um dos objetos mais impressionantes – e que pode passar despercebido pelos visitantes – é um livro datado de 1541. A obra, escrita em latim e com capa de couro de porco, repousa na sala da educação.
Embora não trate diretamente da história de Jaraguá do Sul, sua presença no acervo reforça o valor do museu como guardião de memórias raras.

Segundo a chefe dos museus Ivana Cavalcanti, esta é uma peça de excepcional relevância, não apenas pela idade, mas pelo estado de conservação que desafia os quase cinco séculos desde sua impressão.
Além de seu valor histórico, o livro carrega também um valor acadêmico e já foi utilizado por pesquisadores de diversas áreas.

2. Os quadros de Artlete Schwedler
Entre as obras mais icônicas preservadas pelo Museu Emílio da Silva, os quadros da artista jaraguaense Arlete Schwedler chamam atenção pela ousadia e simbolismo.
Descendente de alemães, Arlete se destacou por retratar temas pouco convencionais para a época. Retratos de pessoas negras e até um casamento inter-racial faziam parte de sua produção artística, rompendo padrões sociais e culturais vigentes.

Um de seus trabalhos mais emblemáticos é o quadro que representa a chegada dos imigrantes a Jaraguá do Sul, entregue durante o aniversário de 130 anos da cidade. Embora a cena seja fruto da imaginação da artista, a pintura traz detalhes ricos em significado.

Entre os elementos curiosos estão dois cachorros, um de Arlete e outro de Ivana Cavalcanti, amiga da artista, inseridos de forma discreta, além de uma mulher com vestido lilás – cor incomum para a época, quando predominavam tons mais sóbrios. O lilás simboliza o empoderamento feminino, reforçando a visão vanguardista de Arlete.
Outro detalhe marcante é o bebê no colo da mulher, algo raro nas imigrações históricas. Na obra, ele representa o nascimento de Jaraguá do Sul como comunidade.

E, para completar, há até a presença de capivaras, hoje reconhecidas como um símbolo jaraguaense, que dão um tom afetuoso e identitário à pintura.

3. Gramofone
O gramofone, criado no final do século XIX, foi um dos primeiros a popularizar a reprodução de música em discos, transformando a forma como as pessoas ouviam sons gravados.
A peça que integra o museu carrega também um valor simbólico para Jaraguá do Sul: ela foi doada por Werner Ricardo Voigt, um dos fundadores da multinacional WEG.

Mais do que apenas um objeto antigo em uma das salas do museu, o gramofone representa o encontro entre tecnologia, memória e cultura. Além de preservar um pedaço da história de vida pessoal de um dos fundadores da maior indústria de motores do mundo.
4. Contrabaixo de Emílio da Silva
O contrabaixo exposto no museu carrega uma história que une música, memória e legado familiar. O instrumento foi doado por Eggon da Silva, um dos fundadores da WEG e filho de Emílio.
A trajetória com o instrumento começou de forma inusitada. Emílio encontrou o instrumento abandonado em uma edificação e, movido pela sua paixão pela música, decidiu recuperá-lo.

Com esse contrabaixo, Emílio da Silva participou, em 1956, do movimento que resultaria na criação da Sociedade Cultura Artística (SCAR). O gesto simples de resgatar um instrumento se transformou em contribuição direta para o nascimento de uma das instituições culturais mais importantes da cidade.
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Exposição de objetos indígenas
Uma exposição que passou por uma transformação significativa ao longo dos anos. Antes restrita a uma pequena mostra, a coleção não recebia tanta visibilidade dentro do acervo. Esse cenário começou a mudar a partir de uma experiência marcante vivida durante a visita de uma comunidade indígena.

Uma criança se encantou ao reconhecer, entre os itens do museu, objetos que faziam parte de sua própria cultura. O brilho no olhar daquele visitante serviu como alerta: o museu precisava dar mais espaço para essa representação. Afinal, preservar a história jaraguaense também significa valorizar as raízes dos povos originários que compõem a identidade da região.
Com essa percepção, os curadores decidiram reposicionar os objetos em um dos corredores principais da instituição.

Número de telefone antigo
Antigamente, os números de telefone em Jaraguá do Sul eram bem diferentes dos atuais. Em vez de nove dígitos começando pelo código 47, os telefones tinham apenas seis números. Alguns ainda vinham acompanhados por um traço separando os dígitos, como no exemplo registrado em foto: 72-0261.

Esse formato reflete uma época em que a quantidade de linhas era bem menor e a telefonia ainda dava seus primeiros passos por aqui.
Hall dos prefeitos
Logo na entrada do museu, os visitantes se deparam com o Hall dos Prefeitos, um grande painel que reúne todos os nomes de quem já governou Jaraguá do Sul.
Ali estão registradas as trajetórias de prefeitos e vice-prefeitos que marcaram a história política do município, compondo uma linha do tempo atualizada a cada eleição, o último nome da lista é o do atual prefeito, Jair Franzner.
O que mais chama a atenção, sobretudo de quem conhece a história local, é a presença de Geraldo Werninghaus, um dos fundadores da WEG. Ele assumiu a prefeitura em 1997, mas faleceu de forma inesperada em 1999 – em um acidente de carro, ainda durante o mandato.
Sua lembrança permanece no hall como um exemplo de liderança que deixou marcas profundas tanto no setor industrial quanto na vida pública da cidade.

Cada placa traz também uma breve biografia de cada prefeito, mostrando como atuaram em suas gestões e qual legado deixaram para Jaraguá do Sul.
Faça uma visita ao museu!
O Museu Histórico Emílio da Silva está aberto à visitação gratuita e recebe a comunidade de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 11h30 e das 13h às 16h30. Localizado na Avenida Marechal Deodoro da Fonseca, 247, no Centro de Jaraguá do Sul, o espaço é uma oportunidade de conhecer de perto relíquias que ajudam a contar a história da cidade.
Como isso impacta a sua vida?
Conhecer o Museu Histórico Emílio da Silva é uma forma de resgatar memórias que constroem a identidade de Jaraguá do Sul. Cada peça, cada história preservada, contribui para que as futuras gerações entendam de onde vieram e para onde podem ir. Valorizar esse acervo é valorizar a si mesmo como parte viva da história da cidade.
Bruna Friedel
Jornalista em formação na FURB. Escrita é minha paixão, assim como livros, música e tudo que envolve cultura.