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Coluna: Amizade em tempos de web

Separar o joio do trigo, cultivar bons sentimentos, ter empatia, não discriminar pessoas, nem promover discursos de ódio pode ser um bom começo

13/02/2022

Se você procurar a definição para a palavra “amizade” poderá ficar surpreso, porque o significado tem uma dimensão muito maior do que encontramos hoje em dia. Ao acessar o dicionário, descobrirá que a palavra é definida como “sentimento de grande afeição, simpatia, apreço entre pessoas”. Ou ainda que é “relação de afeto, de carinho, de estima e de dedicação entre duas pessoas, sendo esses sentimentos recíprocos”. Por sinal, você costuma acompanhar quantos amigos mantêm nas redes sociais? Se pudéssemos considerar todos eles amigos de verdade, seríamos pessoas afortunadas, não é mesmo?

Com certeza, muitos dos rostos que estão adicionados nas suas páginas do Facebook e do Instagram fazem parte do seu círculo social, da família, do trabalho, da vizinhança. Enfim, são pessoas que você convive, ou conviveu em algum momento da vida. Conhece todos? Provavelmente não… Felizmente encontramos e reencontramos muita gente boa e esse é o lado positivo da navegação pela web. Muitas vezes, é comum que os amigos mais próximos de nós são os que estão mais longe geograficamente. A vida e seus mistérios indecifráveis.

Entre as vantagens da maturidade está o fato de que aguçamos mais a capacidade para identificar fake friends, de separar o joio do trigo. A vivência também nos permite sermos menos ingênuos e, consequentemente, nos decepcionarmos menos. Pelo menos, é assim que deveria ser.

Cá entre nós, está cada vez mais difícil ter e manter relações de amizade com comprometimento e lealdade, numa época em que sentimentos menos nobres, por assim dizer, parecem falar mais alto. É triste constatar que o individualismo, a ambição e as vaidades pessoais se sobrepõem em muitos momentos naqueles que são focados no sucesso a qualquer custo. Isso sem falar nas “amizades” sem consistência, movidas por interesses.

Muitos pais criam os filhos desde cedo para chegarem sempre no primeiro lugar do pódio. Menos que isso é considerado um fracasso! Os colegas deixam de ser amigos e passam a ser concorrentes. Assistimos mães e pais competirem entre si para mostrar o quanto seus rebentos são melhores do que os outros. Ah, as aparências!

É comum ensinarem às crianças, o quão importante é se destacarem na sociedade, ostentarem que estão “bem de vida”, levarem vantagem, aparentarem ser o que não são, cultivarem o status. Nem todos se preocupam em transmitir valores como solidariedade, empatia, comprometimento social e honestidade. Tudo começa com o que semeamos. Para começar, cultivar bons sentimentos, não discriminar pessoas, nem promover discursos de ódio e separatismos. Afinal, o mundo não se encontraria nesse caos que temos hoje se não tivéssemos deixado acontecer.

Você pode achar que tudo isso não passa de um discurso piegas…  Para muitos, pode ser mesmo. De qualquer forma, acredito que ter amigos verdadeiros, ainda que poucos, é motivo de muita gratidão.

Como bem disse Khalil Gibran na incomparável obra O Profeta: “Vosso amigo é a vossa necessidade satisfeita. Ele é vosso campo, que semeais com amor e ceifais dando graças. E ele é vossa mesa e vossa lareira. Pois a ele vos achegais com fome, e nele procurais a paz”.

Que você,  leitor (a), sempre possa contar com amigos verdadeiros em seu caminho, para falar e ouvir, nos bons e nos maus momentos.

 

 

 

 

 

Por

Sônia Pillon é jornalista e escritora, formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Integra a AJEB Santa Catarina. Fundadora da ALBSC Jaraguá do Sul.

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