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Futebol: De promessa olímpica a retomada de carreira no interior de Santa Catarina, os altos e baixos de Clayton

Criado em Jaraguá do Sul, atacante de 27 anos abre o jogo do por que não alcançou o potencial esperado após venda recorde do Figueirense

16/08/2023

Fonte: GE

Clayton era uma das maiores promessas do futebol brasileiro em 2016. Com 20 anos, o atacante tinha acabado de ser vice-artilheiro e medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de 2015. O ótimo desempenho internacional fez com que ele fosse comprado pelo Atlético-MG por € 3 milhões, se tornando a maior venda da história do Figueirense.

A primeira temporada no Galo foi positiva para o jovem atacante. Em um elenco recheado de ótimos jogadores, Clayton conseguiu espaço e atuou em 46 jogos, marcando sete gols e dando duas assistências. Entretanto, o brilho no Atlético-MG não durou muito e os empréstimos começaram.

“Sinceramente… Às vezes com 20 anos a gente não tem ideia fixa, pensa “quero jogar” e, no decorrer do tempo, as pessoas que estavam na fila atrás de mim acabaram jogando, tendo oportunidade por eu ter ficado agoniado e saído. Isso me atrapalhou um pouco. Algumas escolhas minhas. Eu poderia ter ficado, suportado o processo e ter buscado o meu espaço”, contou Clayton.

Natural do Rio de Janeiro e criado em Jaraguá do Sul, Clayton começou a carreira no Figueirense, onde chegou com 12 anos. O atacante subiu ao profissional pela primeira vez em 2012, com 17 anos, mas, quando o Furacão foi rebaixado para a Série B naquele ano, o jovem retornou a base alvinegra.

“Em 2014 ingressei no elenco do Vinícius Eutrópio, que vinha com uma base muito boa, como o [Marcos] Assunção. Ali comecei a ingressar no profissional. Houve troca de treinadores, veio o Guto Ferreira e comecei a ter mais oportunidade, fiz dois jogos e o Guto caiu. Veio o Argel [Fuchs], onde eu pude ter mais sequência e oportunidades e consegui aproveitar de uma melhor maneira”, afirmou.

O Figueirense retornou à Série A em 2015 e Clayton foi peça-chave na campanha da permanência da equipe no Brasileirão. As ótimas atuações no Furacão, ainda na primeira metade da temporada, renderam a convocação para os Jogos Pan-Americanos, disputados no Canadá.

No Brasil de Rogério Micale, Clayton foi titular, vice-artilheiro (quatro gols em cinco jogos) e essencial na conquista do bronze. “Os Jogos Pan-Americanos me deram muita visibilidade internacional. Inclusive, vieram alguns interesses de fora do país e, por algumas questões que não dependiam de mim, não aconteceram as negociações. Me deu uma projeção nacional e internacional muito boa”, lembrou.

Clayton (camisa 11, agachado à esquerda) – Brasil x Uruguai. | Foto: Rafael Ribeiro/CBF

Como Clayton contou, a tão sonhada transferência para a Europa não aconteceu, mas houve disputa entre gigantes do futebol brasileiro para a contratação do jovem em 2016. Além do Atlético-MG, Corinthians, Palmeiras e Santos queriam o atleta. A jovem promessa ficou com o Atlético-MG, que o comprou junto ao Figueirense por € 3 milhões, até hoje Clayton é a venda mais cara da história do Furacão.

“No Figueirense eu vinha jogando de 9 e segundo atacante, que foi minha formação na base. Quando cheguei no Atlético-MG, eu tava fazendo uma função mais pelas beiradas, por ser um jogador rápido e versátil, tinha que participar mais da parte defensiva, principalmente porque tinha o Robinho do outro lado e o Fred, jogadores que não marcaram tanto. Como eu era o mais novo, acabava sobrando algumas questões mais defensivas. Foi muito benéfico e aprendi bastante”, destacou.

No total, Clayton fez 96 partidas pelo profissional do Figueirense, com 27 gols marcados e dois títulos de Campeonato Catarinense (2014 e 2015). Contudo, compartilhar vestiário com os “ídolos” trouxe a angústia se seria ou não titular na próxima temporada, e Clayton pediu para ser emprestado. Desejado anteriormente, o Corinthians prontamente se colocou à disposição para contar com o atacante.

“O empréstimo de 2017 eu que pedi. Como o elenco do Atlético-MG tava muito recheado, eu voltei em janeiro para a pré-temporada e eles começaram a usar uma formação em que eu estava perdendo espaço. Apareceu o Corinthians e eu não pensei duas vezes. Cheguei nas fases finais do Paulistão com um elenco super encaixado, que deu muito certo naquele ano. Foi outra experiência incrível, jogar no Corinthians com jogadores experientes, padrão de jogo excelente e o grupo acabou sendo campeão de tudo”, declarou.

A passagem do atacante no Timão durou até a 19ª rodada da Série A, porque ele retornou ao Atlético-MG na segunda metade da temporada para jogar novamente sob o comando de Rogério Micale.

“Quando o Micale chega ao Atlético-MG, ele pede o meu retorno e voltei jogando. Fiz gol nas quartas de final da Primeira Liga [1×0 contra o Internacional]. Depois que o Micale caiu, veio o Oswaldo de Oliveira, perdi espaço novamente e, no treino antes do último jogo do ano, eu disputei um lance numa bola parada e acabei rompendo o cruzado. Fui voltar só em agosto de 2018”, recordou.

No Corinthians, Clayton fez 14 jogos (Paulistão, Sul-Americana e Brasileirão) e marcou dois gols. Clayton retornou de lesão apenas na segunda metade da temporada de 2018, porém, não ficou no Atlético-MG, se transferiu por empréstimo ao Bahia, válido por um ano.

Corinthians x Universidad de Chile – Clayton. | Foto: Leonardo Lepri

“Minha ideia era ficar no Atlético-MG, minha família, meu filho estava estabilizado na escola e até conversava com a minha esposa para buscar mais oportunidades no Atlético-MG, não ficar pulando, mas a diretoria me falou que não iria ter muito espaço. Apareceu o Bahia e eu vi como uma oportunidade de jogar, fazer mais números”, lembrou.

No Bahia, Clayton fez 19 jogos (Baiano, Copa do Brasil, Sul-Americana e Brasileirão) com dois gols marcados. Quando retornou ao Atlético-MG, em agosto de 2019, Clayton nem atuou na equipe de Rodrigo Santana, técnico na época. Logo foi para mais um empréstimo, para o Vasco, onde também não conseguiu somar números, mas, dessa vez, por questões extra-campo.

“Eu joguei quatro, cinco jogos e explodiu uma matéria que eu tava irregular, que era meu terceiro time de Série A no ano. Depois disso eles não me levaram mais para os jogos. Simplesmente me deixaram treinando e abafaram a situação porque o Vasco poderia cair por perda de pontos nos jogos que eu tinha participado. Isso me complicou muito, fui para o Vasco para jogar e aconteceu essa situação em que eu poderia derrubar o Vasco. Eu perdi espaço no grupo e não joguei mais”, comentou.

No Vasco foram apenas sete jogos pelo Brasileirão. “Às vezes fiquei pulando pra lá e pra cá com contratos curtos, onde joguei pouco ou o treinador não tinha intenção de me utilizar. Acabei fazendo algumas escolhas erradas no decorrer desse tempo”, afirmou.

Em 2019, quando retornou ao Atlético-MG, Clayton foi comunicado que não seria utilizado por Jorge Sampaoli. Como tinha mais um ano de contrato, clube e atleta concordaram em rescindir contrato em comum acordo.

“Cheguei a trabalhar com o Sampaoli, mas eram muitos jogadores sendo contratados, eu iria perder mais espaço que eu já não estava tendo e rescindi”, declarou. Ao longo de quatro temporadas no Galo, Clayton atuou em 62 partidas e marcou nove gols.

Clayton, do Atlético-MG. | Foto: Bruno Cantini/Atlético-MG

Com o fim do relacionamento conturbado com o Atlético-MG, Clayton finalmente conseguiu o sonho de jogar na Europa. Na temporada 2020/21, o atacante assinou com o Dínamo de Kiev, da Ucrânia.

Para adaptação, o técnico Mircea Lucescu, que ainda comanda a equipe, colocou Clayton para treinar com a equipe B, o sub-23 do Dínamo. “Quem não tá jogando muito, joga na equipe B, onde os jogos são um dia antes. Eu treinava com o principal, jogava com a equipe B e já ficava na concentração do hotel para integrar com a principal”, destacou.

“Fazia alguns anos que o time não era campeão, ficando atrás do Shakhtar Donetsk, e, no ano que cheguei, fomos campeões da Supertaça da Ucrânia, Taça da Ucrânia e Liga Ucraniana. Como o time estava ganhando, não mexia, eu também estava em adaptação. Foi um período de muito aprendizado. O sonho europeu foi curto”, desabafou.

No final da temporada, Clayton teria uma extensão de dois anos, porém, o Dínamo não quis renovar com o atacante por conta da pouca minutagem. No profissional do Dínamo de Kiev, Clayton jogou apenas uma partida, na Liga Ucraniana, e deu uma assistência.

“Quando eu voltei para o Brasil, voltei novamente sem números, eu já vinha a dois, três anos me arrastando sem números e jogos oficiais e ficou difícil de buscar mercado. Fiquei três meses em casa esperando um negócio dos Emirados Árabes, que estava encaminhado, mas no final da janela eles acabaram contratando outro jogador e me descartando. Peguei a última semana de janela no Brasil. Sem números, os clubes da Série A não tiveram interesse e acabei indo para o CSA, um projeto interessante onde eu ia jogar”, declarou.

A retomada da carreira de Clayton seria no CSA. O atacante participou de sete das últimas 12 rodadas da Série B 2021 e ajudou o Azulão a quase conseguir o acesso, terminou em quinto lugar com dois pontos atrás do quarto colocado, mas sempre há um porém na carreira de Clayton.

“Quando muda o ano, em 2022, na primeira partida do estadual eu acabei rompendo o cruzado novamente. Fui voltar a integrar com o grupo em setembro e, como era ano de Copa do Mundo, o campeonato foi encurtado nas datas, voltei faltando seis rodadas, com o CSA em um turbilhão de emoções disputando rebaixamento. Acabou que eles fizeram uma limpa no elenco e acabaram fazendo um acordo para minha rescisão porque não pretendiam renovar por conta dos valores que eu ganhava”, lembrou.

No CSA, Clayton fez oito partidas e deu uma assistência. Neste ano, Clayton atuou pelo Londrina, ou ao menos tentou ter uma sequência. Na terceira partida do Paranaense, o atacante rompeu um calo ósseo no tendão de Aquiles e essa lesão o tirou de campo até o presente momento. O atleta até voltou a treinar no Tubarão e foi para alguns jogos, mas, por conta de um episódio conturbado com o presidente Sérgio Malucelli, a passagem dele no Londrina chegou ao fim. “Injusto!”, alertou. No Londrina, Clayton atuou em três partidas (Paranaense). A última vez que o atacante entrou em campo foi no dia 22 de janeiro.

A esperança de dias melhores

Até 2013, Raul Cabral foi técnico de Clayton na base do Figueirense. Desde então, os dois tem uma boa relação de amizade e respeito. De acordo com o atacante, o técnico do Hercílio Luz já queria contar ele desde a lesão no Londrina, mas Clayton queria buscar seu espaço no time paranaense.

“Quando ele [Raul Cabral] viu a matéria [da saída do Londrina], ele e Felipe Gil voltaram a me chamar para me mostrar o projeto e disseram: “O que tu precisa é estar no campo e jogar, a partir do momento que voltar a fazer números e ter sequência, tu vai voltar a ser o Clayton que era. O mercado vai te ver com bons olhos, porque tu ainda tem 27 anos, então vem que a gente vai te ajudar e tu nos ajuda a subir para a Série C e na Copa Santa Catarina”, afirmou.

Clayton no Hercílio Luz. | Foto: Bianca Coan/HLFC

No início de agosto, Clayton foi anunciado pelo Hercílio Luz. Com o foco de utilizar o atacante na Copa Santa Catarina, competição estadual que dá vaga à Copa do Brasil, o atleta não participou da reta final do Leão do Sul na Série D, onde foi eliminado na segunda fase.

“Eles contam comigo para o estadual também. O Hercílio vê com bons olhos o Clayton pelo sentido de ajudar tecnicamente, elevar o nível do grupo e, quem sabe, fazer uma negociação. O meu foco é o desempenho técnico, estar jogando. É um clube transparente, correto, tenho me sentido em casa. Estou feliz porque são pessoas que conheço, que vão apostar no meu potencial e sei que, a partir do momento que eu voltar a jogar, muitos clubes vão voltar a me ver com bons olhos”, finalizou. A Copa Santa Catarina começa no dia 30 de agosto.

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Por

Sou Felipe Junior, jornalista formado, na Universidade Regional de Blumenau (Furb), pós-graduado em Jornalismo Esportivo e Multimídias, na Anhembi Morumbi, em São Paulo.

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