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Lilly Clara Bertha Fiedler Gumz completa o centenário de nascimento

Dona Lilly conhecida por “Oma” Gumz, nasceu pelas mãos da parteira, pois na época, o distrito de Jaraguá não tinha hospital com especialidades médicas no atendimento de partos

23/03/2022

Na década de 1920, no território do distrito de Jaraguá, o planejamento urbano encontrava-se em metamorfose, pois iniciava-se a difusão da construção civil pelos moradores que trabalhavam na pequena indústria e comércio de varejo – secos & molhados e armarinhos.

Em 5 de outubro de 1922, pela Resolução Nº. 318, o Dr. Marinho de Souza Lobo, Superintendente (prefeito) de Joinville sancionou a denominação até então, Estrada Rio da Luz/Jaraguá, para Rua Abdon Batista (atual Avenida Marechal Deodoro).

No ano que celebramos os 100 anos da denominação do logradouro da atual Marechal, a cidadã Lilly Clara Fiedler Gumz, também irá completar em 26 de março próximo, 100 anos de trajetórias, sendo a única testemunha ocular do fato histórico local ainda vivente, pois nasceu na via em uma das casas que fazia parte do conjunto do patrimônio edificado.

Dona Lilly conhecida por “Oma” Gumz, nasceu pelas mãos da parteira, pois na época, o distrito de Jaraguá não tinha hospital com especialidades médicas no atendimento de partos.

É filha do casal Leopoldo e Bertha Schuhardt Fiedler, sendo afilhada de Adolfo Fiedler, Berthold Schuhardt, Otile Ristow e Clara Fiedler. Foi esse grupo de parentescos próximo, que levaram a criança à pia batismal, na Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. O evento religioso era celebrado pelo pastor Ferdinand Schlünzen, imigrante alemão instalado por volta de 1902, na paróquia de Brüderthal, território de Guaramirim, e em 1907, instalado em Jaraguá centro.

Dona Lilly pertenceu a uma família de inúmeros filhos e filhas: Oscar, Ella, Harry, Asta, Paula Lucia e Berta.

Aos 32 anos, Bertha, a sua mãe faleceu. Posteriormente, o seu pai Leopoldo casou-se novamente com Gertrudes Maas, nascida em Ponte Alta/SC, com a qual nasceram duas filhas e um filho: Milda, Melita e Beno.

Dona Lilly, é residente no bairro Santa Luzia (antigo Itapocuzinho Alto), chegou a esse momento único, por conta dos cuidados carinhosos dos familiares, boas atitudes, conhecimentos e bons hábitos alimentares.

Recorda que passou a primeira fase da vida antes de frequentar a escola, na Marechal de Deodoro da Fonseca, cuja residência era no entorno da firma Marcatto.

Véspera de completar sete anos, fase do início da vida escolar, os pais foram residir na Tifa dos Pereira, território que atualmente faz parte do bairro Czerniewicz.

Na Tifa dos Pereira, o seu Leopoldo Fiedler era tropeiro de cavalos, que chegavam à cidade pelos tropeiros dos campos de Lajes (SC) ou pelo trem e desembarcavam na Estação Jaraguá. Estrategista nas vendas, “Seu” Leopoldo atendia os pedidos de compra dos agricultores do distrito. No decorrer dos tempos com o excedente dos negócios abriu comércio de varejo, secos & molhados e salão de baile.

Na época, o casal Fiedler matriculou a menina Lilly na Escola Particular Jaraguá. Diariamente fazia a pé todo trecho em companhia das outras crianças da vizinhança, sendo necessário atravessar a ponte metálica e coberta Abdon Batista.

Entre os colegas da vizinhança e da escola, destacava-se o menino Waldemar Gumz. O menino era residente no território da atual Artama, sendo filho do casal Oswaldo e Olga Hornburg Gumz. Ele nasceu em Timbó (SC) e ela em Jaraguá. A profissão do seu Oswaldo era construtor de carrinho de mão (schubkarre) e carroças (wagen), manutenção e consertos, cuja oficina era em sua propriedade.

As duas crianças desde a tenra infância eram companheiras da jornada diária, para frequentar o caminho em direção à Escola Particular Jaraguá, cujo prédio escolar havia sido construído em 1921. E 2020, foi restaurado pela comunidade Luterana de Jaraguá do Sul. Assim, tornando-se uma identidade arquitetônica e patrimonial, símbolo da escola estrangeira alemã da cidade.

Eram seus professores (as) entre o fim da década de 20 e início da década de 30: Analise Weh, Heinrich Geffert, Ferdinando Schlünzen, Martha Schlünzen, Oelwein e Adolf Hermann Schulz (ginástica).

(Foto: Divulgação)

Na época a escola era mantida pelo associativismo escolar, entre os quais Leopoldo Janssen era presidente. Organizava-se festas animadas com apresentações de declamações das crianças, churrascada e bailes. Os eventos aconteciam no primeiro e segundo semestre de cada ano, sendo em locais diferentes, além da escola, Salão Buhr, Salão Mielke/Lorenzen.

Por volta de 1937, Leopoldo Fiedler encerra as atividades comerciais na Tifa dos Pereira e segue para Vila Chartres (São João). No local, em frente à família Tomellin, instalou um ponto comercial de varejo para atender os colonos no território local e entorno. No decorrer da trajetória econômica, o senhor Leopoldo Fiedler, estruturou os negócios em regime familiar e contava com o apoio da filha Lilly, do genro Waldemar e outros familiares.

Até os 20 anos, a filha Lilly trabalhava como atendente no comércio do pai. Nessa época, por volta de 1941 recebeu um convite social do jovem Waldemar Gumz para participar da festa de inauguração da torre da Igreja Luterana no Brasil (Comunidade Apóstolo Paulo), centro. A proposta era visitar a parte interna do templo, subindo as escadas até o último degrau. Assim, os dois poderiam apreciar o perfil do paisagismo urbano e patrimonial da cidade. Para concretizar o convite, Waldemar enviou cartão social, narrando o evento luterano e pedindo uma resposta. Lilly ao receber o convite sinalizou positivamente. Dessa forma, iniciou o namoro no marco inaugural da torre da festa protestante.

Em 3 de abril de 1943, Lilly e Waldemar subiram ao altar da Comunidade Apóstolo Pedro. Mas antes aconteceu uma surpresa: no momento da entrega da documentação no cartório, ela ao iniciar a assinatura pela letra “L”, foi interceptada pelo agente do cartório, pois comunicou-a que seu nome correto era “Helena”. A jovem questionou, pois durante a vida até presente data assinava Lilly. A explicação veio paralela, o que aconteceu ao nascer, o primeiro registro era de batismo, cuja certidão os pais escolheram o nome de Lilly. Porém, o registro em cartório foi no ano de 1923. Na ocasião, entre a data do batismo e o registo de nascimento, o casal decidiu mudar o nome da filha para Helena. Quando foi matriculada na Escola Particular Jaraguá, os pais usaram a Certidão do Batismo, costumeiramente usada na época.

Feito o esclarecimento, Lilly seguiu a trajetória de vida, usando o nome social de batismo. Porém, ao assinar documentos oficiais, recorre ao nome de registro na Certidão de Nascimento.

A trajetória da união matrimonial de Lilly e Waldemar foi marcada pelo nascimento dos descendentes: Gisela (1945, in memoriam), Wilson (1948, nasceu pelas mãos da parteira Frau Tecla Grossglatz) e Marcia (1958, nasceu no Hospital e Maternidade Jaraguá).

Por volta de 1944, em Santa Luzia, o casal Waldemar e Lilly Gumz compraram em regime familiar, com chancela do Opa Fiedler, o estabelecimento comercial de varejo secos & molhados, do húngaro brasileiro, Germano Gascho, genro do industrial, Arnoldo Leonardo Schmitt.

Desse negócio nasceu a sociedade entre o sogro e o genro, que possibilitou o início do empreendedorismo sob liderança do Seu Waldemar Gumz e sua companheira Lilly.

À medida que o tempo passava, o casal com os funcionários dedicava-se para o crescimento econômico do empreendedorismo, bem como o desenvolvimento de Santa Luzia.

Assim, o antigo secos & molhados transformou-se em frigorífico (FRIGUMZ), supermercado, loja de confecção, granja de suínos, indústria de ração e engenho de arroz.

A unidade do casal e as ações de esforços simultâneos regados pela cooperação de Dona Lilly, faziam do empreendedor um sucedido homem de negócios, que contribuiu para o crescimento econômico de Jaraguá do Sul, gerando centenas de empregos durante décadas.

Apesar de todos os esforços, a década de 1980, marcada pelo ciclo da hiperinflação, criou dificuldades para o empreendedorismo no Brasil. Assim, por volta de 1993, parte do empreendimento, a FRIGUMZ foi vendida à Companhia Minuano Alimentos, de Lageado (RS).

Dona Lilly com o esposo Waldemar (in memoriam), são fortes referências e tiveram participações significativas na comunidade, pois ouviam do povo as necessidades ligadas às melhorias da educação (EERR – Elza Granzotto Ferraz), construção da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, organização da OASE (frauenhilfe), Clube dos Idosos (Comunidade Católica), dentre outras.

Dona Lilly frente às ações de interesses das comunidades tradicionais, era articuladora de ações efetivas, contínuas e caráter ecumênico. De liderança forte e influente gostava de receber em sua casa com almoço ou jantar, o padre que vinha a Itapocuzinho Alto com a finalidade de organizar missa aos membros da Capela Santa Luzia. Da mesma forma participava da OASE (Luterana)  e Clube dos Idosos (Católico/Adelaide Rosá), Sociedade Caxias (bolão/kegel/futebol/Fußball), com efetiva colaboração e presença.

No livro “Memorial do Bairro Santa Luzia – Os Herdeiros da Duquesa”, obra de autoria dos senhores, Álido Rosá e Lauro Rosá, a partir da página 315, há um recorte de pesquisa que retrata o pioneirismo da família Gumz e Fiedler. Os autores entre as linhas, destacaram a trajetória de vida da sábia anciã, Dona Lilly (Helena), a personagem de vida longeva e centenária, que dedicou a vida à família e ao desenvolvimento do território do atual bairro Santa Luzia, como exemplos a serem seguidos por outras gerações.

Dona Lilly (Helena), é a cidadã de saúde da longevidade, de força ativa no modo de pensar, sentir e agir, na terra do Criador. Tem forte vínculo de pertencimento ao território de Santa Luzia, testemunhados pelo exemplo de vida, regada pelos valores tradicionais e virtudes, em um século de memórias e histórias.

Considerando a sua alta estima, agradabilidade, fortes traços de caráter, a família  de Dona Lilly e seus descendentes, filho (Wilson) e filha (Márcia), genro (José Edival) e nora (Dolores  Tomaselli), netos (4), netas (3) e  bisnetos (10), saúdam a personalidade centenária, que entrará para a galeria das campeãs da “medalha de ouro,” em qualidade de vida.  Isto é fruto da sua rica biografia, com indicadores de sabedoria e dons, representando as duas famílias, Fiedler e Gumz. Ein Prösit!

Texto: Ademir Pfiffer – Historiador

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